o vingador
Este continho besta começa com um aviso: nunca ria de um nome estranho, exótico, esquisito...especialmente alguns que se formam por um processo classificado pela gramática portuguesa de aglutinação - quando quer se homemagear duas ou mais! pessoas, unindo seus nomes em um só, batizando algum felizardo, que eventualmente terá problemas futuros, como veremos à seguir:
"Como vai camarada?"
"Muito bem, trabalhando bastante e nadando contra a maré!" respondia malandramente o vigia da fábrica cinza.
"É... agora tão dizendo que vamos trabalhar um domingo sim e outro também, absurdo!"
"Se o salário subisse como a carga de trabalho meu chapa, os trabalhadores seriam é patrão!" dizia ainda de bom humor, com dentes finos e pontudos à mostra.
"Bom, tenho que ir, até logo...aliás, como tu chama, mesmo? conversamos à tanto tempo e nem sabemos nossos nomes."
"Meu nome é Wagner" disse embaraçado.
"Hummm, Wagner, o meu é..."
"Na verdade meu nome é esse" interrompeu Wagner inesperadamente mostrando o crachá, onde lia-se SUELYWAGNER - VIGILANTE.
O outro homem, que nem chegou a se apresentar e por isso não se sabe seu nome, desatou numa gargalhada estridente, chamando a atenção dos colegas que estavam ao redor.
"Pessoal" gritava o homem sem nome, "vocês não sabem de nada! não sabem da missa um terço! ouçam vocês aí perto da rampa" chamava-os com as mãos, "ouçam o nome deste cara!"
Enquanto isso, SUELYWAGNER, o vigilante, olhava petrificado, tornara-se repentinamente o centro das atenções, pior, o centro das zombarias que aquele ato lhe proporcionaria dali em diante.
A galhofada toda durou dez minutos, em que SUELYWAGNER suportou gracejos maldosos, anedotas com duplo sentido que tinham como tema a dúvida sobre sua sexualidade, logo concluíram algo humilhante e resolveram lhe chamar de BUBA o hermafrodita!
Tudo isso fora extenuante à WAGNER (por razões de respeito à dignidade da pessoa humana o chamarei daqui em diante pelo apelido), que no auge da humilhação derramou uma lágrima ligeira, tão breve que não foi percebida...
Passaram-se alguns dias, o homem sem nome viera se despedir de Wagner (já não se lembrara da cena vexatória que criara contra Wagner dias atrás), porque arrumara outro emprego noutra cidade longe da fábrica cinza.
Wagner desejou-lhe sorte e friamente lhe apertou a mão, perguntou "...é a última vez que nos vemos?"
"amanhã é o último dia, venho pegar o resto das minhas coisas e dar uns beijos nas minhas negas que vão ficar órfãs sem o papai aqui..." respondeu em tom de graça o homem sem nome.
Este não poderia supor que a frase "amanhã é o último dia" era premonitória, WAGNER trataria de pôr as coisas no lugar e o mofador morreria dia seguinte brutalmente!
Caminha levemente pelo imenso pavilhão da fábrica cinza entre pesadas máquinas que no momento não eram operadas por ninguém, saindo detrás duma bancada repleta de ferramentas, WAGNER aparece diante do homem com os braços abertos à guisa de uma fraterna despedida, "vem me abraçar, não nos veremos mais..."
O que se ouve depois são uivos e gritos de dor, pânico! WAGNER morde com seus dentes finos e pontudos suas veias do pescoço com voracidade animalesca, devora seu rosto inteiro, deixa desfigurado o homem sem nome, que agora também é sem face.
Quando o acharam morto disseram ter sido vítima dum lobo selvagem que às vezes aparece na fábrica cinza.
Quanto à WAGNER, riu melhor, riu por último, estava vivo, sobrevivera à chacota, tinha vontade de gritar seu nome: SUELYWAGNER O VINGADOR!!!
P.S: o nome de SUELYWAGNER é uma singela homenagem à sua mãe de leite: Dona Suely e ao guarda noturno que o achou naquela caçamba de entulhos, Seu Wagnão. E aí deu no que deu...