REI NU DE XI XÁ

R E I N U D E X I X Á

(XIXÁ foi o nome de Itapuranga – GO.,

nos seus tempos de vila; e é minha

cidade natal: adorada como tal!)

Em homenagem a todos nós, seres nascidos em março, posto hoje, em deferência a meu aniversário, que foi um dia destes e a todos os que virão, no que são tantos, uma homenagem escrita por mim; e para mim.

No que cometo alguns abusos e algumas digressões metalingüísticas.

Quando, ainda menino, queria ser escritor, não temia: nem bicho papão, rato fedido, marido traído ou revolução política. Nada, mas nada mesmo! E sabia que aquilo de escrever, seria a redenção. Então esperei até aprender a ler e escrever direito; e comecei a emprenhar páginas e mais páginas com fecundas ideias. (fé CU ndas)

Ao invés de meros fragmentos desconexos, a narrativa, aqui engloba possibilidades promissoras, nada comparada a odisséia de Eurico, o presbítero, nem faz paralelo com o gênesis da bíblia.

O principal protagonista dessa narrativa expõe uma das tantas teorias esquisitas que vigoravam no pensamento xixaense. No que discorre sobre a pobreza, de espírito é claro, depois sobre a própria ignorância (que pode levar a eutanásia) e realça um pouco as impressões sobre o local e sobre a vinda de um possível profeta.

Estou com a cabeça cheia de ideias que não querem ir para o papel, e não quero partir para o subterfúgio de escrever sobre a falta de ideias, pois não é o caso.

Não sou um príncipe, nem um escritor fracassado, só não tenho coragem de ler o que escrevo, nem muito tempo depois. Sei que acharão tudo horrível e eu me sentirei envergonhado. Mas minha personalidade e estilo nos textos assombram. Afinal, por que insisto em escrever? Tenho ideias para tantas histórias, mas elas nunca passam do primeiro parágrafo. Meu senso crítico me impede de continuar.

Essa história não começa há muito, muito tempo, nem em um lugar muito, muito distante. Ela começa há cerca de três anos aqui mesmo no Xixá, ainda não metrópole, mas tida como capital dos solitários.

A história que aqui se pretende contar é talvez mais antiga que as civilizações. É sobre um povo tão desconhecido e perdido no tempo, que até hoje poucos homens chegaram, a saber, sequer de sua existência. É a narrativa da incrível descoberta do reino de Xixá e como ela chegou (a história) a ser finalmente conhecida.

Há muito, muito tempo, século XXXIII, viveu e reinou nas planícies do Xixá o poderoso rei PULEIRÓVISKY XI, o Justo. Este poderoso soberano era adequadamente chamado de justo, pois em suas batalhas não fazia distinção entre os conquistados. Matava todos: homens e mulheres, velhos e crianças.

Vinha de uma linhagem de nobreza, sendo que poderia ter sido Xá do Irã. Não o foi por razões não intelectuais.

De fato, nunca aprendeu a ler e escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ocupação. Onde dor, sofrimento, desgraça; nada o demovia do intento de ser o único rei deposto, mas no trono... (sem bidê).

PULEIRÓVISKY XI era um homem deslocado, estava à frente de seu tempo; já praticava o nudismo pós-moderno. E nu sua bunda vivia pendurada no teto e ele se apaixonava por mulheres com três vulvas. Mas a decepção com uma chaleira na geladeira, que derrama sua gelatina de pequi, sobre sua torta de banana caramelizada, o toca. Para piorar seus peixinhos cegos saem do aquário para comer pipoca e beber pinga de engenho. Tudo isto poderia levá-lo a desistir-se de tudo, inclusive de toda sua vida inusitadamente interessante, de todo rei.

Ele tinha uma filha. A filha dele era uma princesa. O rei gostava de fazer tapioca para ela. Ela gostava de comer beiju todos os dias. Porém na tentativa de fazer com que ela engolisse uma tarântula resultou numa desgraça sem comparação.

Ela foi internada no convento das Irmãs Descalças do Sagrado Coração do Menino Jesus de Banana Murcha do São Bento do Livramento. E o profeta proclamou o futuro, igualzinho o passado, em nada diferente do presente.

Aconteceu que naquela época, PULEIRÓVISKY XI estava trabalhando com um esquema bacana de contrabando de polpa de maracujá e fécula de mandioca para a Europa. Não é que quisesse ficar rico, não; era mais uma caridade que ele fazia em prol dos viciados nossos de cada dia, não aqui, no Xixá, mas lá no velho continente.

A polícia, como sempre, era contra. Chovia. Então a chuva também estava contra PULEIRÓVISKY XI. E para piorar o palácio do caldeirão no fogo estava calmo, muito suave e até fresco demais. Tocava um disco long play do Waldick Soriano. O volume da música era tão alto que o rei justo (...) nem se deu conta de que estava sendo observado.

Observado ou não o tempo passava, mesmo que pelo buraco da ampulheta. E outro dia ficava para trás.

E a cada dia que amanhecia era um dia a menos no calendário, assim esperava ansioso a passagem das horas. Contava os minutos para se libertar desse segundo casulo. Ficar nu era tudo que ele queria.

Não era o que pode se chamar de um sacana. Na realidade era “o líder” da diáspora dos xixaenses, que de vinte em vinte anos voltavam para procurar por Xixá, que havia se desmembrado do Reino de Gorobixaba.

Não se revela aspectos políticos e nem geográficos daquele país, apenas se acrescenta alguns elementos pouco verossímeis para sua história.

A grande jornada dos Xixaense até os confins do império, onde o poderoso PULEIRÓVISKY XI tirava suas sonecas, foi mais tarde cantada em baladas medievais que ninguém ouviu; foi exaltada em botecos por rodas de bêbados que ninguém lembrou e enaltecida por psicopatas que não deixaram sobreviventes para contar história.

(julho/1999)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 16/06/2011
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