Mulheres Rebeldes II : Simbiose feminina Brasil X Itália
O comportamento de mulheres, independente de nacionalidade, é igual no mundo todo quando se trata de consolidar direitos por uma liberdade maior. Só muda o endereço. Nesta história, que é verídica, duas mulheres tiveram a mesma idéia e coincidentemente têm o mesmo nome. Elas se chamam Luciana e não se conhecem, uma vive na Itália e a outra, no Brasil.
Portanto, a Luciana - mulher de meia idade italiana - e a outra Luciana - mulher brasileira com um pouco mais de 40 anos - numa explosão de revolta fizeram uma caminhada a pé, em rodovia de muitos quilômetros, quando se sentiram vulneráveis diante de uma situação de conflito dentro do lar.
Vamos nos transportar a verdejante região de Umbria no interior da Itália, pois é neste lugar que vive a Luciana italiana, mãe de Stefano, filho único. Seu pai, um policial de carreira, é simpático e de personalidade forte e não menos forte é a personalidade de sua esposa, mãe de Stefano, que soube muito bem colocar um limite em alguma situação (não entramos em detalhes do conflito) que lhe incomodou e desequilibrou o seu poder dentro de casa.
- “Minha mãe é determinada”, comentou Stefano , com um sorriso irônico no lábios, ao contar sobre o fato que a senhora italiana caminhou quase 20 quilômetros à pé depois de uma discussão com o marido. Ela saiu de sua casa, localizada numa área rural e percorreu a estrada que liga a região ao centro da pequena cidade. Simplesmente sumiu e deixou os dois homens atônitos sem saber o que deviam fazer, praticamente perdidos dentro do ambiente doméstico.
Pudera, era uma mulher no meio de dois homens, ou melhor machos. A única forma que encontrou para expor cruamente a sua revolta foi caminhar indefinidamente, sem rumo, até não aguentar mais. Sumir por algumas horas do seu mundo e da vida dos dois, especialmente do companheiro.
Saindo da Itália e chegando ao Brasil, numa pequena cidade chamada Piraquara, encontramos um caso semelhante. Luciana, a brasileira, usou do mesmo artifício para transmitir silenciosamente a sua revolta diante da incompreensão familiar. Interessante esta simbiose feminina. Mundos diferentes, idades diferentes, apenas o que elas têm em comum é a família e o papel de mãe e esposa.
Luciana, a brasileira, também se sentiu ameaçada no posto de mãe e conselheira dentro do lar e num conflito, não teve dúvidas, se mandou a caminhar. Também quase 20 quilômetros, na estrada que liga Piraquara a Curitiba.
Chegou exausta e com os pés cheio de bolhas na casa de minha irmã. Revoltada, embora feliz, creio, pois a serotonina liberada estava solta no organismo.
Idéia genial das Lucianas e se a moda pega vai ser fácil emagrecer. Basta arranjar um conflito, para lançar mão desta artimanha impactante. “Vou sumir por algumas horas e andando expurgo minha raiva pelo caminho”. Acredito que foi este o objetivo delas.
Uma atitude sem violência, corajosa, inteligente de dizer basta! Assustar o povo que vive naquele lar com a sua ausência e dizer sem agressividade: eu não aguento mais! E uma forma intuitiva de se defender do peso de carregar a responsabilidade de ser ao mesmo tempo, esposa, mãe, companheira, amante..... ufa.... muitos deveres para viver neste neste desorientado mundo moderno.
Por outro lado, é resgatar a Mulher Selvagem que está em risco de extinção, segundo a escritora Clarissa Pinkola Éstes, psicóloga junguiana. Em seu livro Mulheres que Correm com os Lobos, ela diz que a “mulher moderna é um borrão de atividades. Ela sofre pressões no sentido de ser tudo para nós. A velha sabedoria há muito não se manifesta.....
Ainda continua: “A natureza selvagem não exige que mulher tenha uma cor determinada, uma instrução determinada, um estilo de vida ou classe econômica determinados. Na realidade, ela não consegue vicejar na atmosfera imposta do ‘politicamente correto`, ou quando é forçada a se amoldar a velhos paradigmas obsoletos. Ela viceja em visões novas e integridade individual. Ela viceja com sua própria natureza”.