Cry
Corria no meio da tempestade que cortava sua carne como cacos de vidro afiados e as gotas d’agua escorriam por seu rosto e corpo, misturados com o sangue, deixando uma morta trilha atrás de si.
Ela corria endoidecida, cega de agonia, tentando fugir daquele inferno que queimava-a por completo.
Mal sabia pobre ignorante, inocente no amar sem medidas que por onde quer que ela fugisse, o inferno a perseguiria, implacável, sem dó, sem piedade, pois a misericórdia é concedida apenas por aqueles que nascem , reconhecem e vivem para o verdadeiro amor, pois nele reflecte a luz divina e quem de sua face longe está, em trevas encontra-se.
Seu vestido estava em farrapos e os pés em carne viva e no entanto ela mal apercebia-se
Naquela fuga tresloucada sem coerência e sem rumo... sem saber que o amar assim é loucura para o mundo e perola jogada aos porcos, pois a maldição dos incautos são senhores da cegueira e mestre nos grilhões da compreensão e do perdoar.
Corria sem fôlego, azulada de frio ouvindo a voz dele dentro do seu ser sem trégua alguma, mal sabendo ela que nessa fuga cobarde assinava sua sentença de morte, pois a tribo dos humanos não perdoa e sim rotula e antes d’olhos fechados, a vela não foi encomendada e o caixão já descia a sepultura... era madrugada alta expirando garras de terror e ela de repente fugindo começou a cantar...
- Ave Maria mãe de Deus tende piedade de nós... teus filhos
Ave Maria...tende piedade, piedade, piedade, PIEDADE MÃEEEEEEEEEEEE!!!
Avé, ave,ave...
E de repente o abismo abriu-se sob seus pés e a engoliu, de longe no meio da tempestade, ainda ouvia-se
Avé Maria Mãe de Deus teeeeeeeeeeeeende! Tende... ave, piedade de nós.
E lá foi ela sugada pelo abismo levando sob si a amarca do inferno e a voz que jamais se calaria dentro do seu ser...