DITADURA

Lá fora um céu enegrecido recobre a tarde tenebrosa.

Como uma bactéria minúscula e silenciosa, um monstro insidioso corrói-me o caráter. Sinto-me inteiramente à sua mercê: um mero títere destinado a cumprir suas ordens. Vivo a mais completa desordem interior. Meu jogo de aparências obriga-me um proceder cartesiano e previsível. Por dentro, um turbilhão de insensatez, a quem não sei dar vazão, alfineta-me o cérebro desordenado. Condeno-me a este monstruoso existir. Farto-me deste elixir amaldiçoado. Meu existir aziago. Nervos aos farrapos. Um último bastião da mais pura ignomínia. Ícone putrefato de vazios e sobressaltos. A lenta e silenciosa agonia na qual me afundo arrasta-me rumo ao mais profundo e enegrecido lago para um vil mergulho.

Lá fora um céu enegrecido recobre a tarde tenebrosa.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 25/05/2011
Reeditado em 25/05/2011
Código do texto: T2991783