VELÓRIO DE SOGRA

O viúvo, embriagado, adentrou em casa aos prantos; histeria, isso mesmo! Esse é o adjetivo a toda aquela falta de compostura – pensaram os três homens que ali estavam.

– Nunca mais vou encontrar uma mulher tão maravilhosa quanto esta que aí está!

Os genros se entre-olharam e, cada um, no próprio silêncio da perda ou ganho, moeram, trituraram e se deliciaram em seus pensamentos malignos; pensamentos que só eles, cúmplices em suas individualidades, compartilhavam telepaticamente até mesmo nos risos.

O primeiro, boêmio, pensou:

– Sogra só devia ter dois dentes; um para doer e outro para abrir a cerveja do genro.

O segundo, funcionário público - como se trabalhasse - imaginou:

– Sogra só devia existir para beneficiar na Licença Luto. Afinal, são sete dias que poderei ficar em casa de papo pro ar.

O terceiro, mais esperto, raciocinou:

– Logo, logo o sogro também bate as botas e aí, a Maria vai colocar a mão na botija – e o seu raciocínio continuou a trabalhar... Mãe é invenção de Deus, sogra, do Diabo.

O mesmo, ainda inconformado, continuou com o seu raciocínio absurdo:

– Se sogra fosse coisa boa, Jesus Cristo não teria morrido solteiro.

Só que aqueles três homens esqueceram de um pequeno detalhe: esqueceram que mais nove genros também matutavam, com sorrisos nos lábios, A PARTIDA DAS TRÊS MULHERES QUE LHES DERAM VIDA.

Este trabalho está registrado na Biblioteca Nacional-RJ

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 23/11/2006
Código do texto: T299034