Conto sem título(1)
Abro os olhos e acordo, estou em um jardim, vejo muitas pessoas ao redor de uma cova. As pessoas ali parecem não notar minha presença, vou me aproximando aos poucos e tomo um grande susto ao ver o nome na lápide, está escrito: Álvaro Lorenzo Bonet.
- Como é possível? Não conseguia acreditar em tal absurdo. Como poderia acordar um dia e descobrir que estou morto – perguntei a mim mesmo.
- Não é nenhum pouco fácil. Reconheci a voz que soou atrás, virei para ver quem era e vi Jonas, o único filho que eu tive e que morreu em um acidente de carro. Ele estava muito bem e não à beira da morte como estava na última vez em que eu o vi no hospital.
Não conseguia conter as emoções e ao mesmo tempo não dava para entender tudo aquilo que acontecia. Estava caminhando com meu filho pelo lindo jardim do cemitério e perguntando como ele estava, mas obviamente a conversa acabou enfocada em nossas mortes. Foi o momento em que eu precisei perguntar:
- Você me perdoa filho?
O filho ficou quieto, mas depois voltou a falar com o pai:
- Eu pensei muito sobre as nossas mortes, foi exatamente um ano de diferença entre elas. Não acredito em coincidências desse tipo, eu acredito que existe um motivo para isso.
- É verdade, faz exatamente um ano do seu falecimento, dia horrível aquele, que desastre.
- Vamos tentar esquecer aquele dia, estamos juntos de novo afinal.
- Está bem, vamos esquecer aquele dia, não é bom ficar lembrando isso.
- Será que ela vai conseguir esquecer?
Carla, mãe de Jonas e esposa de Álvaro está arrasada, perdeu o filho e o marido no intervalo de um ano. Ela está chorando e pensando por que Deus teria tirado as duas vidas mais importantes da companhia dela. Como viveria agora sem eles? Que sentido teria sua vida a partir daquele momento? Para quem ela viveria? Para quem ela dedicaria amor e carinho? Era tudo tão complexo para se entender.