""UM CASO DE AMOR MUITO ESTRANHO ""

Estar desempregado era ruim e mesmo sendo solteiro Jarbas sentia isto, ja' havia trabalhado desde menino em bares, padarias, porteiro de boates e muitos outros serviços, fazia ''bicos'' em tudo que aparecia mas o dinheiro era sempre pouco e quando apareceu o cargo para coveiro no cemiterio foi na prefeitura e fez sua ficha, foi aceito depois de alguns testes, precisava pelo menos saber ler e escrever para que nunca houvesse a possibilidade de trocar defuntos por erros de numeros de tumulos...'as vezes acontecia e dava um trabalho danado destrocar defuntos e o tempo passou e ja' fazia cinco anos agora que Jarbas trabalhava como coveiro do cemiterio da Santa Paz Celestial , cemiterio este que atendia bairros da periferia e uma grande zona rural.

Jarbas gostava do que fazia. Tinha alugado uma casinha pequena perto do cemiterio, na verdade quase nos fundos, o seu quintalzinho dava fundos para o cemiterio e ele abriu um pequeno portão e entrava e saia por la', nem a volta ate' a entrada precisava dar, de noite trancava bem o portão e dormia sossegado.

Jarbas saiu de ferias e foi para Minas para visitar os pais, a familia, ele ja' estava nos seus vinte e cinco e fazia quase treis anos que não via ninguem da familia, nenhum parente, e ficou um mes por la' e quando voltou e no primeiro dia que iria trabalhar, logo que abriu o portão quase não conseguia abrir, forçou, empurrou e passou, fechou o portão de volta e viu que na sua ausencia um tumulo havia sido aberto bem na divisa do muro do seu quintal e a terra acumulada não deixava abrir o portão todo e pensou....vou pegar uma enxada e uma pa' e puxar um pouco a terra ate' que de para abrir melhor o portão e tenho que fazer isto antes que chova..senão a terra desce mais ainda e ai sim não consigo abrir ....e foi trabalhar e so' no fim da tarde se lembrou do portão, pegou a enxada e a pa' e foi para la'....

Chegou e foi recebido por um ''baita'' de um cachorro, enorme, peludo, que de pe' rosnava e mostrava os dentes e latia furioso...Jarbas foi acalmando o cachorro, falando com ele devagar e manso, dizia para que vinha, que morava do outro lado, que apenas iria tirar um pouco de terra para poder abrir o portão e Jarbas viu que o cachorro agora se acalmava, saia de lado, ainda rosnava mas sentou em frente do tumulo e Jarbas viu que era uma cachorra, tinha coleira e tudo e parecia bem tratada...e Jarbas deu a volta, tirou o maximo de terra que pode, jogava em cima do tumulo e a cachorra agora uivando que parecia um gemido sofrido...Jarbas abriu e fechou o portão varias vezes, funcionava agora direitinho, fechou e foi levar a enxada e a pa' ....e a cachorra agora o seguia, guardou tudo, fechou o cemiterio e veio vindo para sua casa e a cachorra o seguindo....

E quando Jarbas estava abrindo o portão e a cachorra agora parada e olhando para ele, ele se lembrou que tinha fechado o portão la' na entrada e chamou a cachorra, iria solta-la na rua da sua casa e ela veio vindo devagar e mansa e ele ouviu um voz chamando....Diana, Diama...ele parou e ficou 'a espera de quem estaria chamando...e viu uma jovem que vinha correndo e chamando por Diana e Diana so' podia ser a cachorra...ela saiu em disparada e se jogou em cima da moça...ela quase caiu, se equilibrou e veio na direção de Jarbas agradeçenco por ele ter encontrado Diana

...era linda, jovem, parecia estar nos seus vinte anos, um vestido branco e estava descalça e os cabelos soltos, seu rosto estava vermelho e respirava com dificuldade...deveria ser pela correria pensou Jarbas, e convidou a jovem a transpor o portão e sair para a rua de sua casa...fechou o portão e foi indo em direção 'a rua e a jovem pedindo 'a ele se poderia ficar ali naquele pequeno galpão no fundo do quintal, morava longe, tinha vindo atras de Diana e ja' estava escurecendo e ela tinha medo de ir embora...ele ficou pensando, no galpão não tinha cama nem nada, era um pequeno deposito, disse isto 'a ela...ela acendeu a luz e dizia não se incomodar, assim que clareasse iria embora, ele que não se preocupasse e Diana ficaria de guarda...ela sempre faz isto, toma conta de mim, e Jarbas pegou um pequeno colchão, travesseiro e roupas de cama, ela se ajeitou o melhor que pode e ficou brincando com Diana...Jarbas saiu, foi ao bar da esquina tomar umas e outras, jogar um carteado ate' o sono chegar...e quando voltou a luz apagada e ele viu Diana na porta deitada...tomando conta!!!

Acordou e fez seu cafe' e foi oferecer para a moça, chamou, chamou e nada...Diana levantou assim que o viu, latiu, abanava o rabo e ia e vinha da porta para o portão do muro...ele bateu, bateu, nada, empurrou a porta e ninguem por ali...e Diana latindo, latindo e ele procurou pelo quintal todo...não a encontrou e foi abrir o portão, Diana saiu em disparada assim que ele abriu e foi parar em cima do tumulo e cavocava, cavocava....ele fechou o portão, passou e Diana ficou por la' cavocando, cavocando a terra do tumulo.

E assim foram todas as tardes...ele vinha e Selma a moça linda esperando por ele, ele abrindo o portão e ela entrando e agora dormindo na cama dele...ele apaixonado, ela amando, e Diana do lado de fora os ''guardando''...meses e meses se passaram e eles toda noite fazendo amor adoidado e Diana rondando a noite toda , guardando a casa e neste meio tempo os pedreiros vieram e um tumulo de tijolos por ali construiram e uma tarde de sabado, ele sozinho no cemiterio e algumas mulheres, duas crianças e dois senhores andando procurando um tumulo e ele foi indo junto, uma das mulheres tinha uma foto moldura que ela dizia que iria colocar no tumulo de sua filha, que ela tinha morrido alguns meses atras e agora que o tumulo tinha ficado pronto vinham para a foto e a placa colocar..um dos senhores carregava uma pequena sacola e uma lata vazia e perguntava onde havia torneira, ele precisava de agua para misturar no cimento e as peças colocar...Jarbas lhe disse, ele foi pegou a agua e misturou, colocou ,e uma placa assentou e depois fez o mesmo com foto...e todos agora choravam e foi quando Jarbas viu Diana chegando rosnando e todos gritando ao mesmo tempo...Diana!!!

Ela veio abanando o rabo e recebendo caricias e afagos de todos e a mulher que era a mãe dizia agora que Diana tinha sumido desde o dia do acidente, no dia que sua filha tinha morrido e ninguem sabia dela e que sua neta tambem tinha sumido, estavam voltando de uma viagem o carro foi ultrapassar e bateu de frente com uma carreta, so' seu genro não morreu, ficou paralitico, sua filha tinha morrido e estava enterrada ali naquele tumulo mas sua neta nunca tinha sido achada e agora Diana estava viva...

Sua neta se chama Selma?

Sim

Ela tem vindo por aqui toda tarde, na primeira noite....bla bla bla e contou tudo...e a familia pasmos, parados, chorando e não acreditando e foi quando Diana se afastou e latindo, latindo foi indo, foi levando todos em direção onde o acidente tinha acontecido, chegou por la' e latia, latia na beira do rio...descia um pedaço e voltava latindo e Jarbas foi ate' um bar e ligou para a policia...depois de muita busca encontraram um cadaver ja' em bom estado de descomposição, ainda tinha pedacos de tecido que um dia parecia ter sido branco e em um dos dedos um anel quase enterrado na carne podre...a avo' reconheceu...era Selma!!!

Ficar desempregado e' ruim, pensava Jarbas, mas depois do que passou, voltou para sua pequena cidade em Minas, ficou por la' fazendo bicos, trabalhando no que dava, no que aparecia...cemiterios nunca mais!!!. pegou medo, virou medroso, tinha medo ate' da sombra, mijava na cama mas la' fora , na casinha, não ia de jeito nenhum no meio da noite e nos primeiros meses dormia em um colchão no quarto da mae, deu o que fazer para ele ir dormir no outro quarto, ainda mais sozinho...nas primeiras noites gritava, pedia socorro, a mãe dele acudia, acalmava e la' ia ele dormir na cama dela...bruta homão e com medo de assombração, dizia a mãe...

Coitado mãe diziam todos, tambem o que ele passou!!!

Passou não, vai passar ainda....Diana e sua dona andam na estrada nas noites enluaradas em direção ao norte, em direção de Minas...Ela, Selma, quer encontrar o seu amor para agradece-lo do que ele fez...ela e Diana seguem reto e direto em direção 'a Minas...

Cruz Credo!!! ave maria, mangalo treis veis!!! disconjuro fio!!!

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 04/04/2011
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