'' O QUERER, O DESEJAR nos faz ''mexer''com coisas....

que nem conhecemos direito.

Coisas misteriosas afloram nossa mente quando queremos, desejamos muito, mas muito mesmo, ''um'' alguem... e se ficamos loucos de paixão por este alguem a coisa piora mais e mais.

Esta ''lenda'' foi contada pelo meu tio quando eu ainda era menino, ele faleceu com oitenta e seis anos e sempre que nas noites de verão nos sentavamos para ouvir casos e causos antigos, de fantasmas, lobishomens, espiritos, cemiterios, que dava medo de arrepiar e mais ainda na hora de dormir, e ele ali contando e nos assustando e me lembro desta lenda que ele dizia que tinha acontecido logo no começo do seculo vinte...achava ele que foi em mil novecentos e dez..por ai.

"""" Deodora ja' estava com 49 anos, era filha unica do dono da fazenda, nunca se casou desde que na juventude tinha se apaixonado pelo preto Gabriel, peão da fazenda, e a familia dela a mandou para a Europa por mais de um ano para por la' estudar e esquecer tudo isto, e quando ela voltou diziam que o preto Gabriel tinha ido embora para bem longe, outros diziam que ele tinha morrido em uma emboscada de capangas do pai dela, outros não sabiam de nada e Deodora solteira ficou, nunca mais ninguem amou e foi se tornando uma mulher que não se cuidava, mais parecia um homem no fisico e nos tratos com todos, vivia usando roupa masculina, andava a cavalo melhor que todos na fazenda, ajudava na lida com o gado, com o cafezal, era pau para toda obra, bebia junto com os peões e com eles se divertia e muita coisa dela se comentava..coisas ruins!!!

E seus pais faleceram, ficou sendo a dona de tudo e querendo aumentar mais e mais a produção da fazenda contratou familias novas para virem ajudar na lida, na lavoura, e chegou uma familia, pai, mãe, cinco filhas e um unico filho homem...Sebastião, chamado de Tião pela familia e por todos, se instalaram na vila e Deodora no dia seguinte foi conhecer os novos empregados...conheceu todos, familia simples, da roça, analfabetos e quando colocou os olhos em Tião alguma coisa se quebrou dentro dela...sentiu uma pontada no peito, um fogo lhe queimando as entranhas, e foi tentar conversar com ele...

Ele de chapeu de palha na mão, pe's descalços, passava um pe' na terra, cabeça baixa...e ela lhe pedindo para erguer a cabeça e falar com ela...e ele foi erguendo e dizendo...sim, senhora!!!

E a paixão foi fulminante que ela sentiu e viu...dois olhos lindos, castanhos em um rosto bonito com barba cerrada, por fazer, barba grossa...pensou ela, cobiçando mais e mais aquele ja' homem nos seus vinte e cinco anos e aquele corpo, da sua altura, forte, musculoso...ela o queria, ali, agora, sabia que não poderia ter, mas queria e se despedindo se foi, e no caminho olhando para tras e não o vendo mais, chorou, lagrimas de desejo, de paixão...e foi-se atormentando dias e noites pensando nele, fazia de tudo para ve-lo, ia ate' a lida do cafe' e via quando ele capinava, uma vez chegou a segui-lo ate' a bica onde os homens tomavam banho e o viu pelado...a paixão aumentou mais ainda quando viu o que ela mais queria...aquilo dentro dela, fazendo com que ela vivesse de novo...aos domingos ia a missa na pequena capela e via-o por la' com a familia e uma noite não mais aguentando saiu e foi para o meio da mata....levava vela e comida para oferecer no meio da mata escura e por la' fez coisas que ate' ela mesma duvidasse que fizesse...

Ficou nua, deitou no chão forrado de folha e se deliciava com uma vela, grande, e em volta sete velas acesas e a comida colocada em oferenda...e ela sentia como se um vulcão estivesse explodindo dentro dela e crescia, crescia e ela ouviu passos, apertou mais e mais os olhos e sentiu um barulho proximo, continuou seu trabalho com a vela e sentiu quando alguem deitou ao seu lado, tirou a vela da sua mão e sentiu em suas entranhas algo entrando, enterrando, como pouco antes fazia com a vela e este alguem sobre ela se debruçou, a abraçou apertado e ela de prazer e gozo não viu mais nada, apenas sentia e sabia que gritava de prazer...tinha conseguido aquilo para que tinha vindo e a negra benzedeira la' do Fundão da Gruta tinha-lhe ensinado...um feitiço para Tião conquistar. Ficou com marcas pelo corpo todo, e todo o corpo lhe doia de tão apertada que tinha sido, e tinha marcas de velas, queimaduras, passou pomada de arnica, melhorou um pouco...dormiu o dia todo naquele dia.

E Tião estava pescando, era domingo , a tarde quente e ele viu Deodora chegando, ficou olhando e ela lhe parecia diferente, mais bonita, mais moça e ele acanhado, de cabeça baixa , ela lhe dizendo boas tardes, nas pedras sentando, olhando para ele e conversando sobre o rio, sobre os peixes e ele foi vendo como ela era encantadora, estava com um vestido leve, cabelos mais curtos e arrumado, cheirava gostoso, usava uma sandalia leve que tirou, ficou descalça, pisava na agua rasa e levantava agora o vestido para a barra não molhar e ele vendo que pernas bonitas ela tinha...ela veio, deitou na grama na sombra, chamou e ele veio, estava enfeitiçado por ela...ele sabia que tinha vinte e cinco e que ela quase cincoenta, mas parecia que tinha vinte de tão linda que estava, irradiava uma luz ate'...e ele se deitou ao lado dela, ela tirou toda a roupa e fez o mesmo com a dele, ficaram nus e ele não resistiu...copulou com ela ali mesmo na beira do rio naquela tarde quente de domingo e quando se deram conta as estrelas estavam no alto...ela o levou para casa, passou a noite por la' e deste dia em diante ficou morando na casa grande.

Ela, esperta, antes que a familia dele protestasse, foi arrajando tudo, trouxe-os todos para uma casa mais perto da casa grande morar, liberou a mãe da lida, de capinar, colocou o pai apenas para cuidar dos cavalos e as irmãs fazendo trabalho leves indo 'a escola, todas elas, e ninguem tinha coragem de dizer nada contra Tião morar na casa grande com a dona, com ''aquela velha horrivel'', pensavam mas nada diziam, nem entre si comentavam e apenas o pai e a mãe perguntando para Tião o que ele tinha visto nela, ele não respondeu, saiu e eles entenderam...estava enfeitiçado por ela, so' podia ser isto...coisas de '' fitiço '' e nunca mais neste assunto tocaram...

E Deodora ficou gravida. Mesmo naquela idade e ela iria parir pela primeira vez...

A mãe de Tião chorou, era mulher, sabia das coisas e sabia que mulher velha não dava bons '' frutos'', mas Deodora deu. E deu mais uma vez, e mais outra vez e ja' iria para o quarto filho..Benza te Deus Deodora, a mãe de Tião falava vendo os netos tão lindos, crescidos...eram lindos demais, loiros de olhos azuis, azuis, todos eles...os quatro tinham cabelos cor da espiga de milho e olhos da cor do ceu...e ninguem na familia de Tião tinham estes cabelos e muito menos estes olhos lindos...

Tião agora que tinha se casado com Deodora era o dono de tudo...de tudo cuidava e muito bem, tinha aprendido a ler e a escrever, sabia das coisas, lidava com gado, fazenda e dinheiro, tinha viajado muito sozinho, Deodoro nunca ia com ele, sempre tinha uma desculpa para não ir...

E uma noite em que ele não estava, a mãe dele viu um homem entrando na casa grande, viu a luz do quarto de Deodora acender e viu vultos atraves da cortina andando no quarto, pensando que era um ladrão foi pe' ante pe' ver o que era...e ao entreabrir a porta viu Deodora nua em cima da cama, parecia uma jovem de vinte anos e o homem de pe' ao lado da cama, quase se deitando por cima dela era loiro, de olhos azuis e tinha chifre e rabo....levou um susto enorme, fechou a porta devagar e devagar sumiu dali...foi para o meio da mata fechada rezar, rezar...e quando amanheceu se viu dormindo por ali...levantou e seguiu seu vida, nunca contou nada para ninguem, ate' que na hora da morte, meses depois, contou para Tião.

E dizem que Tião quando soube foi pedir explicações para Deodora, ela lhe prometeu que naquela noite, no meio da mata fechada , ela lhe contaria tudo...preparou o que tinha que preparar e foi com ele para a clareira e tudo fez...ficou nua, fez com que ele ficasse nu tambem, se deitaram e os olhos fecharam e quando ouviram algo, um barulho, ele abriu os olhos e viu uma moça linda, loura de olhos azuis, azuis se deitando nua ao seu lado e se oferecendo 'a ele...não resistiu e fez amor com ela...mas antes dela por cima se deitar sentiu e viu um homem bonito, loiro de olhos azuis se deitando com Deodora, o homem sorria e Deodora sorria tambem...parecia feliz, ele, Tião, foi tambem.

E quando o dia amanheceu a casa grande tinha uma nova empregada, moça bonita, loura e de olhos azuis azuis e que nove meses depois nasciam duas meninas por la', uma de Deodora e outra da moça loira e as duas meninas eram loirinhas de olhos azuis..azuis.

O pai de Tião faleceu, as irmãs se casaram e se mudaram da fazenda e quando Tião faleceu, rico e feliz com mais de oitenta, seus filhos passavam da conta de dezesseis com Deodora e com a moça loira pra mais de dez, netos e bisnetos ele tinha perdido a conta.

E Deodora quando faleceu aos noventa e seis fazia apenas quatro anos que tinha tido seu ultimo filho loiro de olhos azuis e dizem que na aparencia parecia ter vinte e muitos colonos contam que viram muitas vezes um homem bonito, loiro de olhos azuis rondando pela fazenda, pela casa, pela mata fechada e que tambem muitas e muitas vezes ouviram as crianças o chamando de ''pai'' e que Tião e Deodora davam desculpas e mais desculpas...como se alguem acreditasse nisto...desculpas!!!

E meu tio sempre terminava esta historia nos dizendo que se duvidassemos que fossemos ate' la' onde ainda existe um pedaço da fazenda, la' no Fundão da Gruta e que iriamos ver quantas pessoas loiras e de olhos azuis existem por la'...fica ate' bonito ver todos aqueles cabelos de milho, aquela lemãozada de olhos azuis..so' que naquele fim de mundo nunca chegou alemão nenhum por la'...de quem sera' então que eles ''herdaram'' os cabelos loiros e os olhos azuis?

E uma vez eu e mais dois primos, ja` homens feitos fomos pescar por la`...e na venda, na vila toda e ate` na beira do rio pescando, vimos pessoas loiras e de olhos azuis...e o mecanico que nos atendeu para ver um pequeno defeito no carro era de olhos azuis e cabelos loiros e nos dizendo que seu bisavo` tinha sido Sebastião Pereira dono de todas aquelas terras....acreditamos piamente!!! e nos mandamos mais que depressa dali, e pensar que ali, no Fundão da Gruta , desde o descobrimento so' moraram indios, negros e portugueses descendentes de mouros...cabelos loiros e olhos azuis...de onde? cruz credo!!....terrivel não?

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 03/04/2011
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