Não, quem desaparece não deixa saudades – Ou, porque exatamente nunca existiu.

Músicas estranhas tocavam enquanto o garoto, quase um homem, leve e moreno saia da casa. Caminhou da cozinha, passando pelo corredor, até um quarto. Depois de ter organizado duas ou três perguntas para um dos companheiros de farra que os tinha deixado mais cedo e ido pro seu recinto, foi acolhido com atenção e conseguiu respostas satisfatórias. Uma folha em branco, um espaço tranqüilo para bolar seu fumo e um ouvido a disposição. Sentou-se na cama, atrás da cadeira com a escrivaninha, ficando sentado de lado, em relação ao móvel que o anfitrião se encontrava diposto. Tinha ensaiado uma despedida antes das perguntas, dando um toque na mão do companheiro que o ajudou. Possuia mãos leves, porém, de aspecto bruto, contrastando com sua magreza. O “parceiro” já não era pego de surpresa se por acaso houvesse uma nova intervenção no que estava fazendo na frente ao PC. E como premeditado, houve_ quando a figura deixou o quarto e andou novamente até onde estava antes: a cozinha.

_ Ou, cadê minha mochila?

_ Está aí no chão, junto com um celular carregando na tomada_ disse o anfitrião.

_ Ah, só! Valeu!_ e falando com ele mesmo, com não apenas o olhar, mas o andar e a fala, também, perdida, continua... _ Vamos conferir._ ele pronuncia num tom suave e já depreciado pela ocasião.

_ Deixa eu dar uma olhada... _ o colega atencioso levanta e vai até a

cozinha, quem sabe, ajudá-lo a alcançar suas coisas.

Quando os dois se encontram na cozinha, que fica há uns dozes passos de distância do quarto, num caminho de apenas um corredor, o rapaz, sem muito fôlego, tenta puxar o fio do carregador de celular da tomada sem muito sucesso. A vinda do colega do quarto foi bem vinda, a tomada está metade solta, e presa apenas por um parafuso. Como o primeiro que tenta está em estado de menor graça, a tomada teima em não obedecê-lo. O segundo que chega, sóbrio, segura a tomada com uma mão e o fio com a outra e consegue com sucesso a desunião, tão laboriosa para o “infeliz” que tentava apenas com um dos braços livres, já que com o outro segurava a mochila.

O segundo volta para o quarto, continuando suas tarefas no computador, enquanto o primeiro, cambaleante, com mãos preguiçosas, se despende com um sinal, lá da cozinha, e um baixo silvo, quase um grunhido. Com as luzes da cozinha e do corredor apagadas, o internauta se despede de um vulto, com poucos sinais de vida.

F Freitas
Enviado por F Freitas em 27/03/2011
Reeditado em 27/03/2011
Código do texto: T2873945