LÓGICA ILÓGICA
L Ó G I C A I L Ó G I C A
Caso “1”
O cartaz do lado do balão expressa:
VINHO TINTO DOCE ...............................(Garrafa de 660 ml) R$9,00
VINHO TINTO SUAVE .............................(Garrafa de 660 ml) R$8,50
VINHO BRANCO SECO .............................(Garrafa de 660 ml) R$8,00
CACHAÇA DA ROÇA GARRAFA ..................(Garrafa de 900 ml) R$7,00
CACHAÇA PURA IPIOKA GARRAFA .............(Garrafa de 900 ml) R$6,00
CACHAÇA IMPORTADA ...........................(Garrafa de 900 ml) R$5,50
VINHO CAIPIRA ....................................(Garrafão de 3,6 l) R$15,00
Entra um freguês estranho. Vestido errado para o lugar e a hora. Botas de couro, cano longo; calça de lã, tipo bombacho; camisa também de lã, com mangas compridas e gola dura; cardigã estilo inglês, e, luvas para frio. São 13:00h (treze horas), se preferirem é uma hora da tarde. Sol a pino. Temperatura à sombra mais ou menos 33° (trinta três) graus.
O estranho ser se aproxima do balcão, e pede:
- Uma garrafa de vinho tinto doce, por favor.
O atendente do balcão vai até a prateleira, pega uma garrafa do vinho solicitado, embrulha em um jornal velho e entrega ao freguês. Este com o embrulho debaixo do braço se encaminha ao caixa. Porém, antes de alcançá-lo, pára, pensa, olha, vira para trás, volta ao balcão, e solicita:
- Por favor, troque por uma garrafa de cachaça.
- Qual delas amigo?
- Ipioka.
O balconista recebe o embrulho, desfaz o, recoloca a garrafa de vinho no lugar dela, pega uma garrafa de cachaça Ipioka, embrulha-a no mesmo jornal e entrega ao freguês estranho.
Com o embrulho sob axila esquerda, o freguês, novamente se dirige ao caixa. E convicto, estende a mão direita, e peremptoriamente exige:
- Meu troco.
A atendente do caixa, surpresa, refuta:
- Que troco? Se o senhor nem pagou a mercadoria.
O gaiato vira o rosto para trás, em direção ao balcão e pergunta:
- Por acaso estou levando a garrafa de vinho?
- Não. Responde o balconista.
- Então minha filha não tem por que pagar uma mercadoria que não vou levar.
- Certo. Só que o senhor está levando uma garrafa de cachaça, a qual não pagou.
O comprador, na maior cara de pau, explica:
- Certo, não paguei. Só que a troquei pelo vinho.
E vira-se para o balconista e pergunta, quase que afirmando:
- Não troquei o vinho pela “bruta”?
- Trocou sim. Responde lá do fundo da loja.
- Portanto belezoca tenho direito a R$3,00 (três) reais de troco, que é a diferença de um mais caro pela outra que é mais barata.
- Que diferença seu moço?! Você não pagou a garrafa de vinho!!
- Lógico. Mas também não estou levando-a.
Caso “2”
BIANOR GARRUCHA “o boca torta”, um dos maiores bandidos que a história já registrou, na grande Gorobixaba e regiões circunvizinhas. Preso no CEPAIGO (Centro de Prisão Assistência e Integração de Gorobixaba), pai de três filhos, a saber.
O mais velho, JOÃO CAMBÃO, o terror da Vila Papel, bairro da nobreza norte de Gorobixaba.
O do meio, JERÔNIMO “o lerdo”, se bem que devia ser “o sádico”, pois quando pegava uma vítima ele decepava as mãos, esmagava os pés, destripava e às vezes enterrava viva, quando não queimava a vítima agonizante; o horror do Jardim América, ou melhor, Jardam como é conhecido, um dos maiores Bairros no meio quase nobre de Gorobixaba.
E por fim JC “o vesgo”, JOSÉ CARLOS é o caçula; considerado o gangão do Ponta Caiana, cidade satélite do Município. Onde manda e desmanda. Sem anuência do papa.
BIANOR, analfa de pai, mãe, madrinha, parteira e vizinhos, tinha 35 (trinta e cinco) cavalos, os quais deixou em testamento para os filhos. Cavalos estes, frutos de alguns roubos leves, praticados quando ele ainda era bonzinho, se matava não estuprava ou se estuprava não matava. Pois bem, nosso herói, apesar de inculto tinha bom ouvido, e, curioso como a Emília do Sítio do Pica-pau Amarelo, certo dia ouviu alguém falar sobre fração. Entendeu tudo errado. A fração ¾ (três quartos) de um bolo, para ele, Bianor, significava que três pessoas comiam quatro partes deste bolo. No entender dele, quanto maior o denominador, maior à parte do leão.
E como o caçulinha, JC “o vesgo”, era seu xodó, Bianor deixou 1/9 (um nono) dos cavalos para ele.
Para o filho do meio, Jerônimo “o lerdo”, o qual não cheirava nem fedia, deixou 1/3 (um terço) dos cavalos.
Já para o filho mais velho, João Cambão, do qual ele não gostava, deixou só ½ (um meio) dos 35 (trinta e cinco) cavalos.
E eis que Bianor morreu.
Seus filhos, mesmo a revelia da justiça e longe dos olhos da policia, se reuniram, para leitura do testamento e partilha dos cavalos. Só que cada qual tão analfa quanto o pai, talvez um pouco menos; não chegavam a um consenso. Principalmente por eles terem noção de fração, e saberem que aquelas frações da herança levavam a terem de dividir um cavalo em partes, e era bem provável que este morresse.
Enquanto estavam brigando de unhas, dentes, tapas, pescoções, tiros e facadas; tinha um cavaleiro, PSICOMÉLICO “o esperto”, ouvindo a discussão. Muito lampreiro, apareceu e propôs resolver o problema deles no modelito que se segue.
- Como sabem, 35 (trinta e cinco) é um número bonito, mas impossível de dividir da forma proposta no testamento. Portanto dou-lhes o meu cavalo, que somado com os seus são 36 (trinta e seis) cavalos. Fracionando conforme reza o testamento, ao João Cambão cabe ½ (um meio), que de 36 (trinta e seis) são 18 (dezoito).
Com certa relutância concordaram. O menino “bonzinho”, que só violentava, estuprava, seviciava, estrangulava e esquartejava; tocou seus cavalos e se mandou.
Restaram 18 (dezoito) cavalos.
Para Jerônimo “o lerdo”, o testamento estipula 1/3 (um terço) do total. Que perfaz um montante de 12 (doze). Sem desavenças aceitaram.
O rapaz “‘alegre”, alegre, pois sempre sorria quando decepava os membros de suas vitimas, atrelou seus eqüinos e escafedeu-se.
Sobraram 6 (seis) cavalos.
No que o caçulinha, JC “o vesgo”, queria levá-los, porém o carroceiro não aceitou, pois 1/9 (um nono), como determina o documento de herança, de 36 (trinta e seis) é 4 (quatro), assim é o de direito. O burro, que não era outro senão o picurrucho, acatou a decisão, juntou a tropa e partiu.
No fritar dos ovos ainda sobraram 2 (dois) cavalos para “o esperto”, sendo o seu próprio, que ele havia somado aos 35 (trinta e cinco), e, um que sobrou destes, depois de fracionado conforme rezava o testamento.
N. B. Plágio de pegadinhas creditadas ao Malba Tahan
(março/1982)