A alma do negócio
O orgulho da família era o pequeno restaurante na esquina da Rua 7 com a Avenida 13. Sem dúvida, era o melhor restaurante familiar da cidade, com preços razoáveis e ambiente climatizado, deixando o lugar aconchegante e caseiro.
A família Olivetti morava na casa que era grande o suficiente para ser os dois: casa de família e Restaurante. No melhor estilo vitoriano, a casa era uma das poucas que ainda mantinham o porão e o sotão.
Dona Deise era a cozinheira. Herdara a casa do pai quando este desapareceu subitamente, logo ao casamento dela com o Senhor Olivetti. Ela era alma do negócio e depositava todas as suas forças para manter o lugar. Já o senhor Olivetti era um homem rude, mas que ainda assim cedia às manhas da mulher. Tratava seus filhos com uma severidade extrema. Era um negócio de família e não eram permitidos outros empregados.
Eram três filhos. A mais nova era a pequena Dorothy, que só sabia babar e tomar mamadeira, dentre outras coisas nojentas. Os outros dois eram gêmeos: Diego e Lucas. Eram identicos unicamente na aparencia. Eram como Rômulo e Remo; Esaú e Jacó; João e Maria. Certo, essa última não tem muito a ver com a história, mas deixa para lá. O fato é que, enquanto lucas era arteiro, Diego era delicado. Enquanto um era ganancioso, o outro era generoso. Lucas era galinha e Diego era... Hum... Virgem (?).
Certo dia, Dona Deise pediu para que eles fossem ao lado da cidade comprar condimentos para o prato do dia: Ensopado.
Depois de tudo comprado, cada um tomou um rumo diferente. Lucas foi para a rua onde ficavam as garotas que ele dizia que tinham ‘uma vida divertido’. Putas, por assim dizer... Diego foi para a livraria encontrar a paixão de sua vida, seu primeiro amor. Quero dizer, sua primeira paixão...
Druzianna era linda. Pele branca, seios fartos e torneados perceptíveis pelo uniforme da livraria. Seus olhos verdes eram doces e aparentemente inocentes, mas com uma calor contagiante que se instigava cada vez que olhava para Diego. Eles se conheciam a pouco mais de um ano, mas nunca haviam saído, mesmo a paixão já sendo visível. Ele havia a convidado para sair, finalmente, e iriam depois do trabalho dela. Era para isso que trazia um vestido vermelho, com alças delicadas.
– Então... Como foi seu dia hoje?
– Be... Bem – “ótima hora para gaguejar, Diego!” Pensou ele e respirando fundo – Você larga de que horas mesmo?
– Hum – Druzianna olhou para o relógio – daqui a pouco mais de uma hora... você vai esperar?
Diego pensou, tinha de termina de se arrumar, queria que a noite fosse única. E seria. Pelo menos para ela.
– Eu vou levar esses coisas para minha mãe e volto. Onde quer jantar?
– Ué, leve-me ao seu restaurante...
– Certo. Até mais...
Saiu da loja cantarolando baixinho. Encontrou Lucas saindo de um apartamento. Logo atrás dele vinham três mulheres e um anão.
– Se não quer a verdade, não pergunte...
– Ok, mas um anão?! – Disse Diego inconformado.
– E a guria? Vai comer ela quando?
Diego suspirou
– Aff, você só pensa nisto?
– Hum... Deixa um pouco para mim? Afinal, somos uma família...
***
Druzianna saiu do trabalho as sete e Diego já a esperava. Passearam um pouco pela cidade e, lá pelas dez, foram jantar.
Dona Deise estava encantada com a garota. “Ela é linda” comentou com o marido. Seu Olivetti apenas respondeu “isso prova que nosso varão não é gay! E isso vai contra todas as estatísticas”.
Àquela hora havia poucas pessoas no ambiente e à meia noite o restaurante fechou. A família deixou os dois a sós e foram dormir.
Beijaram-se. A coisa começou a esquentar.
– Onde é seu quarto? – disse Druzianna ofegante.
– Descendo aquelas escadas.
O quarto era quente, úmido e mal iluminado, mas tinha uma cama imensa. Druzianna arrancou a roupa de Diego que quando se deu conta estava deitado na cama.
– É agora que é a coisa esquenta!
Dormiram juntos, abraçados.
Às quatro horas da manhã, o relógio biológico de Diego o acordou. Druzianna já não estava lá e ele pensou que ela estava no banheiro. Achou que deveria subir e ajudar sua mãe a amaciar a carne que seria cozida aquele dia. Chegou ao sotão e qual não foi sua surpresa ao ver Lucas nu da cintura para baixo. E o pior: Druzianna estava acorrentada e gemendo desesperadamente.
Diego entrou no quarto e ficou ainda mais estarrecido: sua família inteira estava lá assistindo àquele bizarro espetáculo.
– Vem, vem Diego... Senta aqui. Ela estava começando a implorar agora... – disse a mãe.
– É, ela achava que Lucas era você... Além de mulher é burra, sem ofensas, Deise.
– Como é que é? Ela... Ela... Mãe... Eu a amo!
– Ama? Faça-me o favor, Diego... Ela é uma qualquer.
– Mas eu a AMO!
– Ai Diego, que coisa emo, ama do jeito que amava Paolo? – Perguntou Lucas, limpando o sangue de suas pernas.
Diego acabou meio que viajando com a lembrança de Paolo... Ah... Paolo e sua negra “sensualidade”. “Que negro era Paolo... Me possuiu como nunca ninguén fez”
– Viu só? Sai daí, a Dorothy tá querendo aprender isso... Se sabe ela tá naquela fase de fazer tudo o que vê...
Diego voltou a si, neste momento.
Pegou um fio que a mãe usava para fazer linguiça e partiu para cima de Lucas.
– Seu imprestável... Eu a am...
Parou. Uma dor aguda surgiu na sua perna esquerda... ele caiu no chão. Do outro lado da sala, seu pai recarregava a 12.
– Da pra ficar quieto e deixar seu irmão terminar? – virou pra Lucas – Amarra ele também... vamo ver pelo menos antes de morrer ele honra sua família... vai conhecer a vara dos Olivetti.
Druzianna gritou. Foi a última coisa que fez.
***
Às seis da tarde o restaurante já estavam lotado. O prato do dia era uma espécie de feijoada. Dona Deise atendia uma senhora que insistia em saber o segreda da comida.
– Ok... Mas você não pode dizer nem o que você coloca nesta linguiça? É tão saborosa.. Com um sabor leve...
Deise sorriu.
– Acho que este se eu contar, você não vai acreditar.