Coisa de homem

“O seu problema meu caro – dizia-me exaustivamente – é que seu pensamento sempre foi muito bagunçado!”. E, de fato, sempre o foi. Mas isso nunca foi uma coisa que realmente importasse para mim. As pessoas dizem coisas sobre os outros, sem os conhecer de verdade. Claro ela me conhecia, pelo menos um pouco, mas isso é um detalhe.

Um certo dia, decidi mostrar que era o cérebro dela que não funcionava corretamente. Chamei-a para minha casa sobre o pretexto de lhe mostrar meus atributos culinários. Claro, ela prontamente aceitou pensando que eu queria mera e simplesmente comê-la.

Tudo organizei para que ela se sentisse bem. Quando ela chegou, viu que a mesa estava ornada com garfos, facas, taças de vinho... E uma mini serra-elétrica. Assustou-se. Tentou correr. Não conseguiu. Agarrei-a e a amarrei na cadeira.

“Eu tenho o pensamento bagunçado?” disse eu. “Deixe-me lhe mostrar a minha última tomografia!”. Peguei um envelope que estava na bancada da cozinha e mostrei para ela. Chorava como uma criança. Uma criança que fala de coisas que não sabe. Uma criança que merecia ser punida. “Viu? Está tudo perfeito! Se meu cérebro está bem, meus pensamentos também o estão!” falei. Ela não respondeu nada... Acho que a mordaça estavam cumprindo bem seu papel. “Agora, vamos ver como está o seu cérebro? Você fica me julgando, mas fala sem saber como o seu anda... Se é que possui um!”

Liguei minha mini-serra. Tinha sido um presente de mim, para mim mesmo. E eu tinha adorado... Bons tempos aqueles...

Bom, peguei a mini-serra e liguei. Antes de começar, fiz mais um ajuste: eu necessitava escutar o que ela tinha a dizer. Desliguei meu brinquedo e tirei a mordaça que a impossibilitava de, entre outras coisas, me xingar.

De muitas coisas me chamou, entre soluços e lágrimas. Quando finalmente cansou, pensando, talvez, que me convenceria de que era desnecessário fazer aquela intervenção com ela, entregou-se ao silêncio. Religuei a serra.

Me aproximei lentamente. Gritos ecoavam em minha sala de jantar. Primeiramente, encostei de leve a serra em seu crânio. O barulho foi reconfortante. Pedacinhos de couro cabeludo voaram em meu rosto. Saboreei com prazer. Suas lamúrias fazia que tudo ficasse ainda mais gostoso. Encostei no crânio, propriamente dito. Ela gritou ainda mais. O barulho da serra aumentou, muito mais sólido.

“Acho que essa serra não vai resolver...” disse eu, muito triste. “Faremos assim, eu compro uma de melhor qualidade e termino o serviço, certo?”. Ela tinha perdido muito sangue, então eu suturei suas lacerações, cuidando para estancar o sangramento. Aproveitei e lhe dei um analgésico para a dor que devia estar sentido, coitada.

Quando ela perdeu a consciência e a prendi à minha cama. Estaria muito confortável ali... Tão aconchegada... Que me senti tentado. Quando ela acordou, eu já estava terminando. Ela gemia. Chorava. Implorava por misericórdia. Me excitei novamente.

Faz três semanas que ela está comigo. Nesse momento, estou na loja de construção, comprando a melhor mini-serra que eles possuem. Sei que minha noiva me aguarda ansiosamente. Ela me ama tanto... Ainda que não possa soltá-la sem que ela queira sair para passear, sei que me ama!

De hoje não passa... Mostrar-lhe-ei o seu cérebro e, se realmente ela tiver um, o jogarei no lixo. Quem precisa de uma mulher que pensa? Tudo seria melhor se ela soubesse que não pode pensar... Isso é coisa de homem! Eu me responsabilizo... Por nós dois."

Laryssa Oliveira
Enviado por Laryssa Oliveira em 22/03/2011
Código do texto: T2864088
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