REVELAÇÕES (Parte II)

O Império Ânus e o monoteísmo

1

Caminho pela estrada principal do continente central chamado Médio, da minha mão esquerda. Não resisto às tentações que me causam as estradas vicinais. Enveredo-me por uma delas, à direita do meu curso. Ouço cânticos sendo entoados ao longe.

2 A vereda é íngreme, caminho devagar. O som dos cânticos tornam-se mais audíveis, são louvores a um deus, cujo nome ainda me é ininteligível. Encontro peregrinos indo e vindo, em sua maioria envoltos em roupas esquisitas, extravagantes, futuristas, arriscaria. Nego-me a fazer perguntas. Sigo o meu caminho.

3 Na descida da montanha, no clarear da curva, surge a cidade. Belíssima, multicolorida, palácios mil, e parece-me engalanada. Uma nova descoberta. Misturado à multidão, chego numa tenda, peço uma xícara de chá. Um ancião metrifica-me de alto a baixo com seu olhar gasto de um olho só. Indago-lhe: - Que cidade é esta? Ânus, senhor. – O que comemoram? Continuo a perguntar. – Hoje é dia de oferendas ao deus Ânus. Vêdes aquela montanha à nossa frente? É a sua morada. Levo a mão à fronte para observá-la. – Mas está fumaçando, digo. – Sim, por isso a imolação. O deus Ânus está exigindo. Daqui a instantes, serão lançados através de catapultas, jovens ânus, à sua boca fumegante. – E se.. O velho não me deixou terminar. - O deus Ânus vomitará vapores fétidos e derramará em suas costas inclinadas fezes incandescentes, matando a todos.

4 O velho me disse mais coisas da cidade. O imperador se chamava Ânus e todos se chamavam Ânus. A moeda em circulação era o ânus, moeda pequena, redonda, de sola, com franjas em cor mica. Em Ânus, não havia polícia, nem fome. Tudo em Ânus, tinha o nome de ânus. Os vegetais, os animais, os minerais, as habitações... Os habitantes dormiam tranquilos, de ânus abertos. Ao escurecer, saí da cidade. Fui dormir numa estalagem, a poucos quilômetros da estrada principal.

Sagüi
Enviado por Sagüi em 18/03/2011
Reeditado em 18/03/2011
Código do texto: T2855331
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