REVELAÇÕES
A DESCOBERTA
1
De pé estou, no vértice das vias mestras da palma de minha mão esquerda. Até onde minha vista alcança, um entremeado de estradas vicinais, uma teia entre mim e os cinco continentes que tentáculos, parecem-me em rogo, ou garras, estendidas, indecisos, entre o puro, o profano.
2 Já percorri muitos deles, os caminhos, alguns, por serem dadivosos, sustentaram meus pés e minhas passadas tornaram lentas. Não resisti a tentação, embriaguei-me com o cheiro doce e toquei-os, em meu caminhar tardo, nos mamilos, botões róseos, mornos, que desabrochavam à beira da estrada.
3 Não me lembro de ter alcançado algum continente, na verdade não, e na verdade jamais os tocarei, minhas pernas já foram gastas até aos joelhos e nos meus pés sobram-me poucos artelhos.
4 Não lembro de ter acordado, alguma vez, na metade de algum caminho. Sempre amanheço, de pé, no vértice das vias mestras da palma de minha mão esquerda. Dizem que há, uma outra mão, a direita, com suas vias mestras, outros continentes. Tenho desejo de conhecê-la.