SEM LUBRIFICAR NÃO ENTRA

SEM LUBRIFICAR NÃO ENTRA

Ali não ventava. Será se era por isso que a fedentina dava uma coceira nas narinas das pessoas? Provável! Chovia torrencialmente. Será se era por isso que as pessoas não arredavam pé de perto do mictório? Talvez! Ouviam-se gemidos. Será se haviam alguém dentro do mijadouro? Cagando? Encalhado? Transando? Sendo enrabado? Tudo levava a acreditar que sim!

Algo não estava certo no momento. Não que catinga, chuva ou gemidos fosse extraordinário, mas também se ouvia sussurros. De uma segunda pessoa ou a mesma gemia e sussurrava ao mesmo tempo? Improvável!

Os ouvintes se entreolhavam, faziam acenos, de quem pergunta o que está acontecendo aqui? Mas não havia ninguém que pudesse elucidar o fato. Ainda no silêncio que envolvia as pessoas, agora amontoadas próximo à casinha, todos curiosos como o peixe pela isca. Alguém fez gesto de empurrar a porta, no que outros foram contra, se expressaram balançando a cabeça de um lado para o outro, em sinal de negação. Outros arregalavam os olhos e movimentavam o queixo para frente, como quem pergunta: fazer o que então?

Algazarra chama a atenção pelo lado negativo que o excesso de sons faz ao ouvinte, mas o silêncio opressivo também traz ansiedade e curiosidade. Foi o que aconteceu no interior da latrina. Que se aquietou e silenciou repentinamente. Há de se pensar que quem quer que seja ou quaisquer que sejam que estivesse dentro do cambrone percebeu a atenção que despertava em quem estava do lado de fora.

Por alguns minutos tanto os de dentro como os de fora ficaram esperando o outro lado se manifestar. E ato contínuo os dois lados saíram da letargia ao mesmo tempo. Os gemidos e sussurros internos e a alvoroço externo.

Um gaiato na platéia sugeriu que alguém deveria olhar pelo buraco da fechadura. Muitos foram contra alegando o direito à privacidade. Outro aludiu que se fizesse uma observação apurada através do vitreaux. Não os mesmos anteriormente, mas muitos foram contra, não pela dita privacidade, mas pela vergonha extensiva ao infrator.

O volume dos sons internos aumentou à níveis vexatórios. Já não mais eram gemidos e sussurros, mas sim alaridos de agonia, paralelos com berros de prazer. Porém continuava a dúvida se de um só individuo ou dois. Com o agravante de se pensar em mais de duas pessoas.

Voltou a se fazer silêncio do lado de fora. Literalmente todos queriam identificar o que, quem e quantos estavam do lado de dentro. Mas a educação e o bom senso prevaleciam; e, ninguém queria ser o invasor da privacidade alheia.

Até aqui corria tudo num clima de civilidade, até certo ponto dos dois lados. Pois se de dentro não vinha escândalo direcionado a ninguém específico, apesar dos gritos e outros sons, de fora também só havia discussão para se chegar a uma decisão plausível, sem denegrir a imagem ou caráter de ninguém.

Sem mais nem por que um mancebo se jogou contra a porta. Esta resistente não cedeu, o aríete bateu e voltou como bola de ping-pong; e, se espatifou no chão. A galera ao tomar ciência da situação cômica riu e achincalhou o invasor. Este pôs o rabo entre as pernas e sumiu, antes mesmo de uma identificação mais apurada.

Uma ação impensada leva a outra. Outro marmanjo dos ali presentes, o Normalysson, sem atinar para o fato da porta não ter cedido, se arremeteu contra esta; e, mais uma vez a mesma resistiu. Novas gozações.

Voltou a se fazer silêncio absoluto dentro do mictório.

A chuva se intensificou levando muitos dos espectadores mais distantes da referida porta, e logicamente mais próximos do relento, a se evadirem do local. Só ficaram os realmente curiosos ao extremo.

Agora sim, eram vozes perfeitamente identificáveis. Uma dizia:

- Empurra! Vamos empurra!

Outra confirmava:

- Estou empurrando, mas sem lubrificar não entra.

A primeira voz ordenou:

- Lubrifica com creme. Não pode deixar esta porra sem acoplar!

Alguns segundos de silêncio. Depois novos gemidos, identificados como alguém fazendo força ou pressão. De repente o espoco de uma rolha ou algo similar. E júbilos de comemoração de algo realizado.

Novamente a voz que parecia ser da chefia:

- No três vocês empurram com todas as forças. Um, dois, três!

Vivas de comemoração.

Saem DOIDIVÂNIA, o LULO e o DIABO.

Os curiosos entram aos supetões. Nada de mais, apenas a geringonça de colocar papel higiênico estava suja de creme.

(março/2010)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 24/02/2011
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