O ENTUPIDO
Normalysson sofria de prisão de ventre e era obrigado a fazer uma rigorosa seleção no que comer. No caso das frutas estava terminantemente proibido caju e goiaba. Entre os outros alimentos o queijo nem pensar! A lista era imensa.
Se caminhava pelas ruas de Gorobixaba ouvia:
- Olha o entupido! O entupiidddooo!
Depois de uma certa idade foi difícil de escolher, mas a escolha foi boa. Resolveu que queria ser uma ambulância; para levar dentro de si mais de 100 quilos de merda, e ainda passar pelas ruas gozando os meninos com a cantilena:
- Uãã uãã uãã uãã uãã uãã....
Na infância não viveu prazeres. Nem o orgulho de lançar um pião e vê-lo rodopiar por alguns segundos. O máximo que aconteceu foi uma pedra arremessada certeira na cabeça de um moleque que o atazanava por causa do entupimento.
Na adolescência quis conhecer de sexo na prática, pois de conversa já estava farto. Depois de uma fase de agarra agarra com uma bananeira, sem, contudo consumar o ato, se tornou irracional. Nem doeu, mas foi seviciado por uma tanajura, daquelas da bunda avantajada.
O que mais o deixou com água na boca foi o volume voluptuoso de uma bola de gude entre suas nádegas, juntamente com aquele cheiro de rapadura velha, foi quando o touro do vizinho cismou de atazaná-lo.
Na fase adulta, antes da terceira idade, no meio de uma conversa animada num grupo, teve uma recaída e soltou a franga quando declarou:
- Vocês ficam ai dizendo que o supra sumo do bom é mulher. Bom mesmo é mandioca! Com casca, descascada, cozida, crua, mas impreterivelmente inteira... não ralada.
Com a chamada idade madura, embora persista o consenso de que nada se iguala ao prazer, mesmo teórico, do sexo, as necessidades do conforto e os pequenos prazeres da vida prática vão se impondo, a gente se sente na obrigação de pensar que bom mesmo é mulher ou jumenta (que é parecido com mulher dependendo da precisão, às vezes dá mais tesão), mas no fundo não só “ELE”, mas os tarados por pornografia e pé de mesa, afinam a viola e se contentam com o que têm; quase sempre uma fêmea animal. Sarada! De quatro patas, casco, rabo, come capim e se comunica por sorrisos de vozes onomatopéicas. Sem ser atriz.
Mais tarde, na saída da terceira idade para o cemitério, Normalysson desmunhecou de vez. E esta é sua trajetória de um nem homem nem mulher, um inconstante no colo da mamãe.
Nem quando era um recém-nascido participou efetivamente da alegria de pegar e mamar num peitão gostoso. Sua alimentação era através de mamadeira, pois a mãe nunca deu leite, das suas mamas escorriam água sulfurosa.
(maio/2010)