Amante Piegas

Lembra de quando discutíamos pelo sabor da pizza? Lembra de quando discutíamos quem ia ficar de qual lado da cama? Sinto falta dessas brigas. Sinto mesmo. Sinto falta de dormir pelado com você em pleno inverno, sob quatro cobertores pesados e de acordar com dores nas costas. Tenho saudades da forma como você esfregava as minhas costas. Saudades de como você me chupava usando aquela touca de banho cafona da sua avó. Saudades de você de quatro, pedindo mais força e sorrindo por cima do ombro. Hoje, quando caminho pela Avenida Paulista sozinho, lembro - sempre, sempre lembro - daquela vez em que adotamos aquele vira-lata chorão que só queria saber de dormir com a gente. E daquela vez que você me presenteou com a coisa que eu menos esperava e ao mesmo tempo era a coisa que eu mais queria? Nunca fui muito de presentes, sabe? Mas você sempre acertou em cheio! Claro, me conhecia dos pés à cabeça. Hoje, nesta cama de solteiro aqui ao lado, tento trazer os dias em que passamos juntos. Isso me conforta. A nossas frivolidades eram tão significantes! Eu valorizava cada "eu te amo, sabia?" que você falava pra mim ao pé do ouvido, fazendo os pêlos do meu corpo eriçarem. E quando eu falava "eu te amo" eu me sentia meio fraco, depois. Destituído de forças. Não sei o porquê. Talvez o sentimento fosse grande demais e tentar resumí-lo com essas míseras e talvez errôneas palavras causasse pane nas minhas células, me deixando fraco. E você soube como ninguém o quanto eu odeio me sentir fraco. E você soube como ninguém o quanto eu posso ser forte. E você descobriu o quão filho da puta eu posso ser. Um filho da puta ardiloso, frio, calculista. Uma raposa. Um cão perdigueiro. Se você me conhecia dos pés à cabeça, eu te conhecia do cu à garganta - como diria o poeta. Quando eu descobri que não era o único não me restou outra opção. O sofrimento me faz forte. A dor me fortalece. Quebrar seus dois braços foi fácil demais. Esfaquear suas costelas quase me fez gozar mais do que aquela vez na mesa de bilhar no sítio da sua família. Te fazer em pedacinhos e jogar pro vira-lata chorão foi um prazer quase divino. Te amei, sua puta! E eu odeio me sentir fraco. Te matei porque você foi a única por quem eu senti isso e não me permito fraquezas. O meu amor morreu em você. E com você.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 16/02/2011
Código do texto: T2794950
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