Encontrar a alma de uma cidade como Roma

A sensação de viver em duas dimensões do tempo, passado e presente, me impressionou muito quando percorri as ruas de Roma, numa madrugada de primavera. Ela é mágica no silêncio da noite, com seus monumentos iluminados, às vezes bruxeleantes pela sombra dos ciprestes centenários, suas fontes que jorram para o alto, jatos de água cristalina, que dançam e brincam com os seus olhos, esculpindo silhuetas, que em segundos se desfazem no ar.

Neste cenário fantasmagórico parece que o passado toma conta da cidade durante a noite, vive o seu cotidiano, enquanto o mundo moderno dorme. Desta forma poética me dei conta que já era parte da cidade eterna, que conta uma história a cada quarteirão que se caminha, a cada obra de arte exposta em museus e igrejas, em cada esquina que se encontra a imagem de uma “madonna” , incrustada na parede, no muro, para oferecer proteção aos transeuntes.

No entanto, os romanos modernos que vivem nela, não pensam desta forma. “Que horror! Este novo metrô que não sai nunca! Faz três anos que está sendo construído”, reclama Nicole, romana da gema, orgulhosa de viver numa cidade tão charmosa. “Roma precisa crescer e não podemos parar porque encontramos mais achados arqueológicos, precisamos melhorar este “casino” que é o trânsito daqui!”, gesticula ela, de um jeito tão peculiar dos italianos, quando os engarrafamentos obrigam ela perder horas do seu dia na rua tentando chegar ao destino final.

Ao final, esta sensação de encontro com a alma da cidade é possível vivenciar especialmente quando não nascemos no lugar. Os romanos estão integrados aos espaços e não percebem estas sutilezas.

Talvez,percebam... não sei.... Sinto como uma estrangeira que chegou na cidade cheia de curiosidades, deslumbramentos e medo . Nos primeiros momentos me senti como uma criança dando os primeiros passos e depois voltando ao lugar de onde tinha saído, exultante por ter feito algumas descobertas.

Numa segunda etapa, comecei a me deparar com os defeitos e o mau-humor da maioria dos europeus que vive pouco dias ensolorados, que se enfurna dentro de suas casas tentando furgir de um frio que corta a pele da gente. Com isso, aprendi a amar mais o Brasil e perceber o que ele tem de melhor. Um povo maravilhoso, paciente, que tem esperança na vida.

Depois de passar a fase do deslumbramento, conhecer os defeitos, veio o encontro com Roma, que já está “na palma da minha “, penso eufórica. Encontrar com a alma da cidade eterna é privilégio de poucos, mas que pode tornar-se de muitos, se tivermos coragem e o propósito de fazer esta leitura das informações com poesia e arte. “Piano, piano( devagar, devagarinho), como dizem os italianos, é possível sentir-se parte!