MUNDO LOUCO (texto sem a letra "E")
Como foi divulgado; nos jornais, nos rádios, todos nós vimos assim como ouvimos, mas calar foi a nossa saída mais sutil. Não damos importância alguma, nunca.
Lá na contra capa dizia: “Uma bomba atômica foi acionada, na madrugada passada, na Ásia, no Japão”. Todos os jornais noticiaram, na capa, na contracapa, nas últimas páginas...
Nós, como os cachorros, só abanamos o rabo.
Não gritamos, não choramos, não lutamos, não falamos, não latimos, admitimos a catastrófica agonia, passivos como patinhos no ninho.
Para piorar não foi só uma bomba, mas sim duas. Uma acima da ilha HIROSHIMA a outra acima da ilha NAGASAKI.
As ditas bombas arrasaram. Ainda arrasam. Sua radiação assola, sufoca, mutila, danifica, contaminam. Mas foram fabricadas para matar plantas, animais, humanos; tudo ou todos os vivos, daí? Não somos nada disso, somos inanimados como as rochas.
Do urânio radiativo, do gás carbônico supra tóxico, dos lixos orgânicos, dos lixos inorgânicos, dos ódios, dos assassinatos, da poluição visual, do tráfico, da falta da comida, da poluição sonora; da falta mais baixa das faltas, falta do amor, tiramos a lição da falta da vida.
CRISTO, nascido, batizado, proclamado filho do altíssimo, iniciou uma luta, há dois mil anos atrás, contra: injustiças, más línguas, difamação, falta do amor... Nós nada com isto.
Uma andorinha só não faz algazarra, mas dá inicio, com nós juntos, ótimo!
Já o criador não faz outra coisa, só nos guardar. Lutamos com/ou contra nós, nos mutilamos, nos matamos. Mas cuidado! Um dia isso vai acabar; o PAI nos abandonará ao nosso próprio azar.
O mundo só sarará com pão para as crianças, trabalho para os adultos, com o fim das brigas, o fim dos choros, quando banirmos os corruptos, com muitos sonhos, com muitos sorrisos. Oh! Com muito, mais muito amor do fundo do coração.
A comunhão dos humanos com o diabo solapa nossa oração; não mais cantamos hinos, nunca mais clamamos ao CRIADOR, não mais louvamos hosanas nas alturas, nunca mais damos graças à MARIA, só irradiamos pavor, quando não mostramos nosso asco aos outros animais, iguais a nós; pais, irmãos ou filhos nossos.
Do pó ao pó, do nada ao nada, assim fomos como somos agora, pois ludibriamo-nos com coisas bobas, iludimo-nos com coisas ínfimas, tampamos o sol com balaio, nunca olhamos para trás, nossos irmãos passam falta da comida, falta do nosso sorriso, falta da nossa palavra, uma única palavra: amigo.
Quando o orgulho, o ostracismo, a corrupção dos atos, o racismo nos abandonará?
Sou por um olhar, um piscar d’olhos, uma gargalhada, um balanço do rosto, um roçar com as mãos; ou um ósculo, ou um abraço, no próximo, no afastado ou no longínquo; haja vista não proibiram ainda sonhar, cantar, dançar, falar, trabalhar, tão pouco congratular.
O significado da vida fica mais saboroso quando oramos por nossos amigos, assistimos nossos inimigos, conquistamos nossos vizinhos ou adoramos nossa família.
Oh! Mundo louco! Virá o dia da proclamação da justiça? O dia do sim? Como? Quando? Aguardai.
PAI! PAI! PAI! Livrai-nos da agonia do mundo louco.
(agosto/1985)