OS CHIFRES
OS CHIFES
Contra tudo e contra todos, até contra a lei da gravidade aqueles chifres cresciam. Que diabo! Pois é, o diabo tem chifres, mas “ELE”? De que serventias teriam?
Está certo que com o tempo algumas partes do corpo crescem antiesteticamente, até mesmo as orelhas, as papadas debaixo do queixo, a barriga, o saco escrotal, mas chifres? Não! Nada contra, alguns até que são bonitos. Nos animais afins, aqueles que crescem para o alto, depois se curvam para trás, enormes!
Pois é... Outras partes encolhem: bilau...
O LULA estava caricato, visto agora, parecia deveras uma caricatura. Ele até que, em sua adolescência e juventude, chegou a ser gracioso, mas agora, aquela galhada de chifres tirava todo seu charme. De mais a mais os chifres continuavam crescendo, crescendo... Só Deus sabia quando iam parar de crescer!
O pobre já tinha consultado médicos e mais médicos, nacionais e importados; e todos, embasbacados e boquiabertos, não atinavam com a causa desta anomalia, mas medicavam, pois é da índole dos médicos medicarem, mesmo não sabendo a causa da suposta doença, ou se levará à morte. Suposta, pois pode ser que seja um benefício e não malefício. Chifres...
Em realidade “ELE” estava deformado não só pelos chifres, mas via-se que sua “moral” estava baixa; e, diminuindo, diminuindo... Isso contribuía ainda mais para lhe dar um aspecto mais caricatural.
Como era um cara de posses, para não dizer rico, foi para Curitiba, no melhor centro de tratamento de lá, e a resposta à sua deformação foi à mesmíssima: causa desconhecida. Em todo caso, passaram um remedinho para, pelo menos, tentar coibir o processo de crescimento. E surtiu efeito: por uma semana, os chifres se estabilizaram, mas, logo voltaram a crescer; agora assustadoramente.
Para piorar parece que virou epidemia, pois um amigo dele começou a apresentar os mesmos sintomas: coceira no couro cabeludo, febre de ciúme, exalava cheiro de borracha queimando e histeria generalizada.
Os Gorobixabenses ficaram perturbadíssimos, também pudera, o que se via pelas ruas são pseudo-homens coçando a cabeça, ou de capacetes, para evitar que se veja os cornos nascendo.
Os noticiários da televisão local, das rádios circunvizinhas e os mexericos de rua são tudo sobre o nascimento e crescimento dos chifres. Na realidade ninguém tem uma informação razoável, toda conversa é sobre a estranha e indigesta anomalia.
A cada dia os chifres do LULA estavam maiores; e, para piorar só cresciam para cima, em direção ao céu, já atingiam a incrível marca de setenta e nove centímetros. Usar chapéu, agora, nem pensar.
Desesperado LULA e familiares resolveram consultar um “curador” local, já que médico não resolvia. O raizeiro receitou uma garrafada de várias plantas medicinais e a queima de velas coloridas na porta do cemitério. Nada dos chifres pararem de crescer.
Como último recurso levaram-no a benzedeira Mãe Dinah. Esta ao vê-lo começou a sorrir. E sem pergunta nenhuma foi logo dando o veredicto:
- Oh! Desinfeliz! Estes chifres são de corno!
Estava dado o diagnóstico de cura. Bastava o metamorfoseado dar fim na traidora.
Parecia simples, mas esta solução carecia de ajuste e coragem para tal.
Aleluia, aleluia! Alguém com coragem para aplicar a “cura”... o diabo.
(junho/2010)