GRÁVIDO DE PINTO
GRÁVIDO DE PINTO
A adaptação da vida, nos mais diversos ecossistemas do planeta é obra da diversidade genética. Uma riqueza que só acontece na Terra, a qual damos o nome de biodiversidade.
A prioridade da diversidade biológica é não afetar as raízes do pinto, para evitar a perda das funções ecológicas, educacionais, econômicas e recreativas, quando do desenvolvimento de doenças exóticas e venéreas.
Particularmente, numa sociedade moderna e rica, como os Gorobixabenses, a introdução do pinto no meio da população eleva a produção de vândalos, que a longo prazo sub “mete” nos animais; dificultando a medição dos pintos, em diferentes escalas.
Sua condição de pinto flácido é uma mera fatalidade; podendo ser uma reação do pâncreas para se ver livre de um interlúdio, do qual ele não faz parte. Se as mutações o tornaram um superpinto, “ELA” desconhece.
Qualquer um que estiver a mercê das ondas mentais d“ELA” sonhará; e, no sonho verá um mundo cheio de pintos livres para cruzar com ou sem motivos.
Na tentativa de aliviar o tédio e o sofrimento de estar vivo, mas não duro, o pinto entrou em movimento retilíneo uniforme; pintos em movimento tendem a cruzar a rua. Por outro lado por causa da atração gravitacional exercida pelas patas o pinto entrou em repouso.
A seleção natural, ao longo de grandes períodos de tempo, tem mexido com o coração dos pintos. Em detrimento se este é clonado, siliconizado, bronhado ou felado.
Numa bela noite estrelada, por toda Gorobixaba ouviu-se uma voz vinda do céu que bradava ao pinto: "Cruza a rua! Cruza a rua". Então o pinto cruzou a rua e todos se regozijaram.
O acontecimento do ano poderia ser o endurecimento do pinto, o destino não quis; ou foi as massas que mentalizaram a imagem do pinto mole; alterando assim a ordem universal do cosmos.
Os Gorobixabenses não têm o costume cultural de cruzar, se bem que este termo está esvaziado de sentido concreto, pois para se cruzar há a necessidade do cio; o que se precisa investigar para fazer qualquer declaração a respeito, na incerteza da evidência. Os mentores da arte do pinto deliberaram que as evidências coletadas indicam que o pinto não teve escolha: cruzava ou era circuncidado.
Tudo aconteceu, como poderia não ter acontecido; porque deixaram à porta do galinheiro aberta, evidenciando a entrada da raposa. Mas se a porta nunca fosse aberta, o corpo de concreto, não infligiria as leis da física, jamais fluiria na direção oposta, portanto foi correto o deslocamento para o outro lado. Também pudera ele queria se juntar aos outros mamíferos.
Outro dilema que o cidadão comum (povo) quer saber é se pinto tem alma?
Para ser “comida”, a pinta, friamente calcula seus movimentos, apesar da verdade sobre a fome do pinto ser de cruzar lá na rua.
Lógico, a flacidez é um condicionamento de que não exige movimento. Uma predisposição genética de cruzar já é um ponto a favor do pinto. Mas não sabemos nada sobre o pinto; nem mesmo se existe um pinto do outro lado da rua.
Ainda bem que DEUS não está nem aí para pintinho que tem preguiça até de pensar. O que dizer daqueles que não cruzam e nem copulam?
Nem o mais sábio dos homens, saturado de informações; em sintonia com o nirvana, ultrapassando as fronteiras do conhecimento conceberia que um homem ficasse grávido. De pinto?
O efeito de cruzamento de rua com pinto duro gerou uma confusão generalizada nos Gorobixabenses. Uma parte da população entendeu que o pinto bota, na pinta o ovo não gema! Uma segunda parte do povo dizia que “ELA” chocava um pinto e iria botar o ovo. A terceira nesga de povaréu tinha como certeza que “ELE” estava grávido.
Quando o povo fala: foi, é ou será!
Pois não é que o LULA começou a perceber que seus mamilos estavam intumescidos, a voz estava fina e trêmula, como de mulher; apresentava sangramentos pelo ânus; mesmo envergonhado; e, se expondo a humilhação resolveu fazer um exame. Dos mais delicados: intra-retal.
Incrível!
Positivo. Estava grávido!
Veio a confirmação: “não podia acreditar; mas de fato ele esperava um filho”.
Estava desolado, ele parecia vencido pelas evidências. Sua barriga já começava a crescer. De quantos meses “ELE” não sabia. Mas isto era o que menos importava.
“Realmente tinha um bebê dentro d“ELE”?
“Mas que diabo, ele não era mulher”!
Bom, pelo menos seu bebê estava bem. Aquela gravidez não era de risco. As dores e sangramentos eram normais, assim havia dito a médica que o examinou.
Instintivamente levou a mão ao ventre, numa caricia protetora, fez um gesto maternal e sorriu:
“Vou para o livro dos records. Homem com um feto dentro do ventre, só eu.”
Sarcástico...
(abril/2010)