O MOÇO QUE VEIO DO PASSADO
Este título pode parecer uma analogia, mas não é. Estou a me expressar literalmente. Sei que ninguém vai acreditar, todavia é só ler amanhã os jornais ou assistir aos telejornais. Estou sabendo que até o “Fantástico” da rede Globo vai abordar esse assunto.
Terça-feira passada, à tarde, estava eu em frente da minha casa, quando se aproximou um moço desconhecido. Cumprimentou-me e depois queria saber que lugar era aquele.
Achando que ele estivesse perdido, informei e ele me disse que ali ficava bem distante do seu bairro. Em seguida desejava saber se eu possuía telefone e se podia usá-lo. Explicou que precisava entrar em contato com os seus familiares. Confesso que fiquei desconfiado. Embora parecesse uma pessoa do bem, podia ser um ladrão. Nos dias atuais não podemos vacilar. Poderia ser um ladrão e maluco também, pois me contou uma história muito louca. Afirmou que havia chegado num Disco Voador, que lhe largaram, não sabia o porquê, naquele local. Já chateado, eu lhe disse:
- Perdoe-me cara, mas você escolheu a pessoa errada para narrar a sua história. Eu não acredito em discos voadores.
Naquele instante o meu vizinho, um senhor de quase setenta anos de idade, que presenciava de perto a nossa conversa e me vendo abandonar o moço, chegou sorrindo me dizendo:
- Olha Everton, se ele veio num óvni, eu não sei, agora que veio do passado, não tenho dúvida. Essas suas roupas, usei muito nos anos sessenta. Conheço só em olhar. É uma camisa “Volta ao Mundo” e a calça é de um tecido chamado “Tergal” – e olhando agora para o rapaz lhe perguntou – Não é isso, mesmo? – Os sapatos que você usa eram os populares “sete vidas”.
- Exatamente – o moço respondeu muito sério. – Saí daqui da Terra no ano de 1965. Fui capturado por alienígenas e levado para um planeta fora do sistema solar. A viagem, mesmo perto da velocidade da luz, levou quase 23 anos para lá chegar. Da mesma forma demorou esse mesmo tempo para eu voltar.
- Ah, deixa de brincadeira! – disse o meu vizinho – Conte a história verdadeira. Vejo que você é bastante jovem, não deve ter mais de vinte anos. Como é que saiu daqui há 46 anos atrás?
- Acontece que não envelhecemos no espaço. Nada envelhece na viagem. E lá no planeta deles fiquei apenas um ano.
- Como você se chama? – já estupefato, perguntei:
- Mário - respondeu o moço – Mário Fernando Cunha de Oliveira.
E continuou tentando nos convencer:
- Sei que é difícil vocês acreditarem, não obstante é a pura verdade.
- E como você se alimentava durante esse tempo? – queria eu saber de tudo.
- Nas viagens, eles me davam regularmente uma super-cápsula para engolir. Já no seu planeta me alimentavam com o que eles levaram daqui. Foi o suficiente para os meses que lá fiquei.
- Mas, afinal, levaram você para quê?
- Não levaram só a mim. E para que nos levaram eu não sei. O que sei é que, todo tempo que lá ficamos, fomos motivo de estudos e exames por parte “deles” e acho que “eles” estão à nossa frente mil anos em ciência, em tecnologia. São seres super evoluídos.
- E “eles” maltrataram vocês? – perguntou o meu vizinho.
- Isso jamais. São muito cordiais. Só fiquei irritado com “eles” agora que me largaram aqui neste bairro ao invés do lugar aonde me pegaram.
Resolvi lhe emprestar o meu celular já que demonstrava muita ansiedade, e aí ele indagou:
- O que é isso?
- Ora, o telefone que você pediu – expliquei, porém ele pareceu não entender. E vi que nem sabia mexer com o aparelho.
Fiz a ligação por ele, entretanto o número que ele me forneceu notei logo que estava desatualizado. Acrescentei mais um número, mas de nada adiantou. Pensei em buscar o catálogo telefônico, todavia preferir pegar o meu carro e levar o moço no endereço que ele queria ir.
Havia nos relatado que tentara antes pegar um coletivo aqui em nosso bairro, mas o cobrador não lhe permitiu passar pela borboleta, recusando aceitar todo o seu dinheiro e ainda o obrigou a descer do veículo.
Aí perguntei:
- E você tinha mesmo dinheiro?
- Claro – respondeu. – Quando fui capturado pelos alienígenas, estava com esse dinheiro no bolso – disse retirando algumas cédulas de um dinheiro estranho. O meu vizinho caiu na gargalhada, dizendo:
- Isso aí é o velho cruzeiro! Estou vendo que ele possuía dois mil e quinhentos cruzeiros... Nem naquele tempo, isso valia nada!
Nesse momento uma viatura militar surgiu passando pela rua. O Mário Fernando vendo, correu e se escondeu atrás de um muro. Perguntamos depois por que ele fez aquilo. E a justificativa foi essa:
- Estão me caçando... Para eles eu sou subversivo e sou mesmo!
- Não existe mais ditadura – explicou o meu vizinho – Estamos agora, e há muito, na democracia. Mas se ainda estivéssemos naquele regime, depois de tanto tempo, eles não iriam lhe reconhecer. Portanto não tenha medo!
- Que bom! – disse o Mário – Mas queria agora estar na minha casa, junto com os meus... Não agüento mais!
Peguei o Mário e levei-o até o seu antigo bairro. Antes o meu vizinho queria de mim um pouco de paciência. Era para aguardar pois desejava chamar a imprensa, convocar jornalistas, ufólogos...
- Isso vai abalar a imprensa mundial! Poderemos ganhar muito dinheiro - argumentava ele.
Acontece que eu notei o rapaz muito aflito e ansioso. Então nos ‘mandamos’ logo!
Lá na sua velha rua ninguém o reconheceu. Nem ele reconheceu pessoa alguma. Alguns antigos moradores com quem conversamos explicaram que os parentes do Mário Fernando ali já não moravam, que os seus pais já eram mortos, contudo nos forneceram o endereço comercial do seu irmão caçula, conhecido por Clóvis. Era o único que possuíam. Fomos até lá ao seu estabelecimento – uma lanchonete – e o encontramos. É um senhor – depois ficamos sabendo de 52 anos – muito simpático. Quando apresentei o jovem Mário como o seu irmão, ele se transformou. Pediu para eu não brincar, que mal me conhecia, que eu estava tocando num assunto muito sério. Disse também que aquele jovem realmente até parecia com o irmão que ele tivera, que ele se lembrava muito bem, embora quando ele desapareceu, ele o Clóvis tivesse apenas 6 anos. Mas que ainda tinha fotografia do Mário Fernando. Falou que esse seu irmão, antes de desaparecer, costumava participar de passeatas, manifestações contra o regime instituído na época. Pedir para que ele me desse oportunidade para uma explicação, no entanto ele não permitiu, não mais me deixou falar. Ameaçou-me chamar a polícia e nos pôs para fora do seu restaurante, dizendo aos seus funcionários a meu respeito:
- Ele me trouxe aqui esse moço com a idade do meu neto com a infeliz brincadeira que é o meu irmão mais velho desaparecido há 46 anos atrás... Aceito tudo, menos este tipo de pilheria. Basta o que já sofremos!
Aí eu disse-lhe:
- Chame a polícia que ficará mais fácil para eu dar a minha explicação.
Mas o Mário me puxando pelo braço me falou:
- Deixe isso pra lá. Depois eu virei aqui, tomo uma gasosa, e com calma explico tudo a ele.
- Gasosa?! – exclamei – O que é isso?
- Uma “Coca”, uma “Grapette”... Não me diga que não conhece!
- Ah!... Enquanto isso não ocorre, você fica na minha casa, não tem problema – afirmei.
Entramos no carro e rumamos para casa. No meio do caminho o Mário me disse:
- Estava pensando em ficar hoje na sua casa, mas decidi ir para outro lugar.
Em seguida puxando um revolver e apontando a arma para mim, continuou:
- Agora quem vai descer do carro é você. Eu nunca fui Mário otário! E disco voador vai virar agora este carro! Desça se não quiser morrer.
Fiquei mais ainda perplexo, atônito, e nervoso, mas ainda conseguir falar:
- Tudo bem, vou descer. Agora se você só queria me roubar o carro, porque demorou tanto? E todo mundo gravou sua fisionomia, sabia?
- E eu ligo? Quero é emoções... Adoro emoções! Divertir-me à beça!
Desci e fui em seguida à delegacia registrar o furto do meu carro. Lá a polícia me informou que eu era a terceira vítima desse bandido. Mas que ficasse tranqüilo porque esse ladrão novo era muito criativo, pesquisador, porém muito ingênuo. Não escondia o seu rosto de ninguém e deixava-se filmar pelas câmeras de segurança. Na lanchonete onde estivemos, por exemplo, ele foi largamente filmado. A sua prisão seria rápida. Era uma questão de horas. O delegado sorrindo, me disse: “Que idiota! Esse parece mesmo que veio do passado ou do mundo da lua!”