NOITES DE INSÔNIA?!...

Ocorrem certos episódios na vida de muitos indivíduos, os quais atingem as raias da comicidade, "arrebentando" de tanto rir os que deles tomam conhecimento. Porém, aos protagonistas, são verdadeiros suplícios, algo semelhante à terrível "tortura chinesa".

Certa ocasião, numa conversa a propósito de tais acontecimentos, alguém lembrou um conto narrado algures, o qual relatava as peripécias de um marido boêmio e jogador, bem como os "suadores" que tomava para conseguir enganar a esposa e amanhecer no jogo.

A este respeito, o conto lembrado é muito parecido com o que aconteceu, envolvendo determinado sujeito do nosso conhecimento, adepto do jogo de baralho e do churrasco com os colegas da repartição pública onde trabalha.

Uma das "escapadas" aconteceu para ir uma carneirada, precedida de um bom jogo de cartas.

À meia-noite, o carneiro ainda estava intacto, e os participantes, só nos aperitivos, esperavam, esperavam...

Júlio esquentado por várias cervejas e umas "caipirinhas", interessado nas partidas de truco, deixava-se ficar muito tranqüilo, à espera que dessem o sinal para avançar na carne, o que aconteceu logo depois.

Para encurtar a conversa, quando deu por si, passava das quatro horas da madrugada.

- Caramba! Pensou ele. Entretanto, ainda quis tomar a "saideira"...

Quando saiu à rua, os primeiros operários passavam para o trabalho. A cidade despertava...

Ele estava um tanto embriagado, mas, pensava temeroso:

- Com que cara vou aparecer à Clotilde?!

Quando chegou em casa era quase dia claro.

Porém, quantas precauções: abriu a porta da rua sem rumor, tirou os sapatos e entrou na ponta dos pés; penetrou no quarto, sem que a porta rangesse nas dobradiças, como de costume e, começou a despir-se.

Todavia, era preciso luz: não havia meios de encontrar o pijama. O isqueiro não funcionava. Depois de muito tentar conseguiu fazê-lo fumegar, tudo isto pelo medo de acender as luzes e despertar a mulher.

Nisto, ouviu Clotilde remexer-se no leito e suspirar largamente. Ele sentiu um arrepio, ficou frio como um gatuno pego em flagrante. O coração pôs-se a bater do lado direito...

O pobre rapaz estava pronto para ir deitar-se no sofá da sala, quando soou a voz de Clotilde quebrando aquele silêncio profundo:

- Júlio?

Mas este Júlio era dito num tom sereno, tranqüilo, até afetuoso.

O "delinqüente" não respondeu; ela repetiu:

- Júlio?

- Hem?

- Aonde vai você tão cedo nesta manhã de sábado?

- Como?

- Você não está se vestindo para sair?

Júlio compreendeu tudo, estava salvo, e respondeu imperturbavelmente:

- Cheguei um pouco tarde, um tanto insone, não quis incomodá-la; desde a meia-noite que assisto televisão, perambulo pela casa. Vou respirar um pouco do ar da manhã, para me reanimar...

Ela ainda lhe disse:

- Fica preparado, logo após o café vamos à feira, depois ao supermercado e, quem sabe passar na casa da mamãe, completou.

E o mísero sujeito, cansado, aborrecido, morto de sono, e ainda meio "de fogo", teve que se vestir de novo e dar um passeio matinal, forçado, queria morrer...

Estava exemplarmente punido...

Dias depois, alguém encontrou Júlio que, meio acabrunhado, saiu-se com muitas tiradas filosóficas do tipo: Não se deve cuspir para cima; poderá cair na sua cara; o que mal começa, mal acaba; não se pode plantar cactos e colher morangos; as más ações trazem sempre más conseqüências e, por isto não mais iria participar de churrascos ou de promoções que os colegas da repartição promovessem, nas quais ele tivesse de enganar Clotilde.

Acontece cada uma...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 22/01/2011
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