Loucura na Serraria

A Érica e o Rafael fervem. Onde quer que estejam, um único beijo já é capaz de acender os hormônios de ambos. Na antiga Serraria do Parque do Ibirapuera, se pegavam frenéticamente. Chupada em pescoço, puxada de cabelo, arranhada nas costas. Mãos indo e vindo por dentro da calcinha, do sutiã, da cueca. Gemidos, salivas, olhares selvagens. Pedidos "me come" e sugestões "quero meter" balbuciadas ao pé do ouvido. Os néctares do prazer já maculavam suas roupas de baixo.

Um pouco afastado, semi escondido entre as árvores, está o velho João. Estava ali, descansando do cooper - oito voltas no Parque - quando chegou o casal. Viu eles sentando, trocando uns carinhos, conversando, rindo, se batendo na brincadeira e começando a se beijar. O beijo se transformou numa metamorfose de mãos que se confundiam no vai-e-volta de uma parte estratégica do corpo para outra. Sentiu algo quente tocando a coxa; tocou nesse algo. Gemeu, observando o casal que lhe propiciava um gratuíto e inesperado prazer. Botou a mão por dentro do shorts e começou a se masturbar.

William sente um misto de desprezo e ódio pela humanidade. Arranjou no Parque do Ibirapuera um meio para extravasar essas suas energias sem ser punido, já que a moral, caso algo saísse errado, estaria do seu lado. Era forte, alto, de ombros largos e passeava pelo Parque aos finais de semana segurando um inseparável coco verde nas mãos. Vazio. Carregava como se este fosse uma bola de boliche. E caminhava sempre procurando casais em lugares remotos e mais "escondidos" do Parque. Pois sabia que lá estaria o que precisava para descontar a sua raiva. E passando perto da Antiga Serraria viu o que estava procurando: um casal se pegando, um frenesi enlouquecedor e estimulante de beijos e mãos e lambidas e apertos e chupadas. Aquele local vazio era propício para esses aquecimentos pré-motel e para a execução do seu intento. Segurou o coco com firmeza e se dirigiu até as costas de João.

E é em lugares para relaxar, curtir com a família, que a loucura ronda.

O casal poderia ter evitado aquilo se poupasse tais intimidades do olhar público?

O velho poderia ter evitado aquilo se sua tara fosse curada em casa com as lembranças da pegação?

O brutamontes poderia ter evitado aquilo se mantivesse um saco de areia pendurado na garagem?

William corre e dá com o coco na nuca de João que de imediato cai desmaiado. Rafael e Érica ouvem o baque, olham, e se assustam ao verem um homem musculoso correndo no meio das árvores com um coco na mão e um velho caído no chão com a bermuda fazendo o formato de uma tenda. Compreendem toda a situação, se arrumam apressadamente e saem andando como se nada tivessem visto. Duzentos metros adiante, William pára pra comprar sorvete e comenta com o vendedor que está um lindo dia. João fica lá, largado até anoitecer, quando foi encontrado por outro casal que se compadeceu de sua situação. "Esse Parque está cheio de loucos", dissera o segurança pro casal. Rafael e Érica pegaram um motelzinho com vista pro Metrô.

07/06/10

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 22/01/2011
Código do texto: T2744537
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