Qualquer semelhança com factos reais,pode não ser pura coincidência!
O único vestigio que ficou,foi uma cruz enferrujada a que o tempo apagou o nome.A data,apenas dois numeros, dois apenas quase invisiveis.18,faltavam os outros.Quais? Não importa saber.
A lembrança passou dos mais velhos para os mais novos,e assim sucessivamente continua até hoje.
Em épocas mais remotas,dizem era uma familia numerosa. Aos poucos foi ficando mais pequena.De geração em geração,com muitos seguindo a carreira religiosa,deixou de se renovar,até que um dia do casal restante,um só descendente ficou.
Sabe-se lá porquê,solteiro ficou.Viveu cheio de plenitude os anos da juventude.Da mocidade sentia saudade.
Inevitavelmente os anos foram passando.Tornou-se solitário com o passar do tempo.
Vivia só. Não lhes faltando materialmente nada.
Criada antiga,do tempo dos pais,lhe tratava com esmero da solitária casa. Era o seu menino...com algumas décadas de proveta idade.
Foi ficando velho.Por companhia o cão rafeiro,companhia dedicada de muitos anos,deitado, a seus pés dormia.Dizem,tinha um especial carinho pelos animais,nunca o tinham visto maltratar nenhum.
Pela manhã,a passarada acordava-o com chilrear que anunciava um novo dia.
Sentia-se feliz,os anos iam passando tranquilamente.
Nunca lhes aconteceu pensar que a família acabava ali.
´Há muito que numa gaiola tinha preso um Rouxinol,pássaro lindíssimo,mas sem voz,vivia calado.Piava apenas de vez enquanto.
Certo dia,um clarão abriu sua alma,Com o brilho nos olhos,abriu a gaiola.Libertou o Rouxinol.O passarinho,saíu,mas não fugiu.
Como que por milagre,não mais se calou.Cantava maravilhosamente bem,seguia seu dono por toda a casa.Feliz e contente,fez de seu ombro o seu palácio,piando,cantando,quem sabe agradecendo.
O homem, honrado respeitado, andava feliz.
Como seus antepassados,católico,temente a Deus.Não era de ir muito á igreginha lá do sitio.Dizia que aos domingos era a missa das vaidades.
Ia várias vezes á igreja.Mas só.Ali ficava,só perante Deus.Dizia sentir-se bem assim.
Os anos não perdoam.
Um dia ficou doente,alguns amigos aqueles que ainda restavam,pois outros tinham partido antes dele,faziam-lhe companhia.Aos poucos a passarada ia ficando cada vêz mais calada como que prenunciando o fim. O fim chegou,com ele o fim da família.
Ao som lugrebe da campaínha o acompanharam a esse Campo Santo,a que chamam o Jardim da Igualdade,as gente daquele povoado.
Sereno e triste a todos seguia o fiel rafeiro.Regressou só aquela casa estava vazia. Por companhia a velha criada,chorando,deixava passar entre seus dedos as contas do seu rosário,as contas de sua própria vida.
Vagueando solitário pela casa o velhinho rouxinol deixou de cantar,não esvoaçava como nos dias felizes de outrora.
De tristeza, um dia apareceu morto.Não dentro da gaiola,
Mas livre.
Do fiel amigo,sem raça,rafeiro,mas amigo,se conta que todos os dias saía de casa,só,triste caminhando de vagar se dirigia ao cemitério.
Contam que aí o viram muitas vezes,junto á sepultura de seu dono.Á noite regressava,cada dia mais triste,á sua espera a velha criada,única amizade que restava.
Um dia não voltou. Encontraram-no morto, deitado ao lado da sepultura de seu dono.
Até os animais sentem a falta de calor humano!