JOÃO E O FORASTEIRO
JOÃO E O FORASTEIRO
Todas as tardes, João passava no bar do Gui para o costumeiro gole de cerveja, torresminho e trocar opiniões sobre o campeonato de futebol em andamento, com a mesma turma de sempre. Vez por outra aparecia algum forasteiro, mas na maioria das vezes os frequentadores eram velhos conhecidos.
Uma tarde de quinta feira de fevereiro, lá estavam eles discutindo apaixonadamente sobre o carnaval que estava próximo, cada um exaltando sua agremiação de coração.
Timidamente chegou uma figura que a princípio passou despercebida pelos circunstantes. Ajeitou-se num canto do bar, pediu cerveja e cigarros. Ficou com o olhar perdido nas ranhuras da parede do bar.
Quando a cerveja começou a fazer seu efeito diurético em João, este, ao dirigir-se ao sanitário para aliviar-se, deparou com aquela figura que alheio a tudo bebericava sua cervejinha. João ficou intrigado. Não se recordava de tê-lo visto no bar antes, porém sentia que já o conhecia. Para certificar chegou perto e cumprimentou o estranho. O outro esboçou um sorriso e ficou nisso. João estava cada vez mais convencido de que conhecia essa pessoa sem no entanto atinar de onde. João, então, arriscou um "você mora por aqui?" ao que o outro respondeu num sussurro quase imperceptível "estou só de passagem".
João voltou para junto dos amigos, batucaram alguns sambas-enredos, beberam muitos copos de cerveja e "quebra-gelo" e acabaram com o estoque de torresminho do Gui. Já bem tarde da noite daquela quinta-feira de fevereiro, João após pagar a conta despediu-se do pessoal que animadamente continuava cantando velhos sambas e velhas marchas, saiu numa inexplicável euforia e se foi caminhando rumo a casa.
Quando alcançou a primeira esquina sentiu que alguém caminhava ao seu lado, virou-se e reparou que o forasteiro do bar caminhava tranquilamente ao seu lado. João ficou intrigado com aquela companhia silenciosa e tentou puxar conversa mas o homem não era de conversa, balbuciava apenas monossílabos com um sorriso enigmático Quando estava atravessando o terreno baldio da Prefeitura, João sentiu uma lufada de ar fria que o deixou com os pelos eriçados.
Voltou-se para comentar qualquer coisa com seu silencioso companheiro mas não o encontro ao seu lado.
João apressou os passos, foi aumentando a velocidade até acabar numa desabalada disparada; chegou em casa ensopado de suor e a mente febril. Entrou em casa, trancou todas as portas e janelas da casa e correu ao banheiro. Se deixou ficar debaixo do chuveiro por longo tempo(de roupa e tudo). Foi aí que ouviu batidas na porta...batiam insistentemente...recusou-se a abrir.
Até que finalmente ouviu um estrondo que lhe deu a certeza de que acabaram de derrubar a porta de sua casa...perdeu os sentidos...
Acordou com sua mãe gritando ao seu ouvido e sacudindo-o freneticamente:
Acorda João...você vai se atrasar para o trabalho!
Bebidas...forasteiros...Bah...
Pedro Gonzalez