O enigma da esfinge

Ela abriu os olhos e notou a mão dele afagando seu cabelo. Continuaram os dois deitados, só os dedos dele moviam-se entre os fios louros e sedosos dela; tudo mais estava imóvel, o tempo estava suspenso, aguardando, e os olhos se encontravam e se invadiam. Ele sorriu, ela olhou.

_ Acho que nós devíamos terminar. Ela disse com a voz minguada.

O sorriso desmancha, os dedos param e dessa vez tudo fica suspenso, aguardando.

_ Por que? Ele pergunta.

_ Porque você não quer o que eu quero.

_ O que?

_ Eu quero um relancionamento.

_ Mas o que é isso?

_ Eu não sei, mas não é o que eu quero.

_ Eu não quero ficar sem você.

_ Mas você também não quer ficar comigo.

_ Mas eu não estou com você?

Silêncio.

_ Eu não posso continuar assim, estou envolvida demais pra ficar e de menos pra um namoro.

_ Por que não podemos ficar como estamos?

_ Eu acabei de dizer o porquê.

_ Namoro é só uma palavra.

_ Então por que você resiste? Se não significa nada?

Silêncio. E mais silêncio. Tempo suspenso mais uma vez.

Ela virou o corpo e encarou o teto, iluminado pelo sol matutino, para não ter que encará-lo. Ele pegou a mão dela num movimento que sugeria que ela o olhasse. Depois de um tempo assim, um tempo que poderia ter sido segundos ou minutos, ela virou o rosto para ele de novo. Ele disse:

_ Você promete que nós não vamos nos separar?

Silêncio.

_ Me prometa.

_ Eu não posso.

_ Por que?

_ Porque você não quer me dar o que eu preciso.

_ Mas nós estamos juntos, estamos curtindo. Eu gosto de você.

_ Mas não o suficiente.

_ O compromisso não significa nada.

_ Por que você me ofende assim?

_ Como assim?

_ Eu não sou uma criança. Não diga que não significa nada quando eu sei o real motivo para você não querer isso!

Silêncio. Olhos marejados. Só um par deles.

Ela vira o corpo de frente para ele e ambos se encaram, olhos nos olhos. Ambos tentam se decifrar, se entender, se sintonizar. Ambos fracassam.

_ Você sabe que não podemos continuar. Não assim.

_ Por que?

Ela sorri como se lembrasse de um momento bom e diz:

_ Porque você ainda pergunta o porquê...

Ela se levanta da cama e sai pela porta do quarto confiante. Ele fica, suspenso como o tempo.

Raphael da Guanabara