Essa mulher é estranha
Rá! Essa mulher é estranha.
Dona Marta fazia o habitual: acordava exausta como sempre; se olhava no espelho,dizendo:“Que merda!Tão culta com essa cara? Puta que pariu,hein!” e despia-se com uma lerdeza de dar dó.
Após sua longa limpeza, mastigava o pão velho com tanta voracidade, assustando-se até. Mas ela é estranha, muito estranha.
De súbito arrastou a cadeira tão ferozmente que seu barulho pôde ser ouvido à quilômetros.
Limpou a umidade do espelho, gritando:“Lavar as mãos!Lavar as mãos!” .
Fazia de dez em dez minutos. Tadinha.
“Tão culta com essa cara?” Agora com essa mania? Poooooooorra!
“Merda,caralho e buceta!”, exclamou ao sentar-se no carro.
“Vamos!”, batia uma das mãos no volante, a outra na bolsa procurando as chaves.
Ao ligá-lo, gritou: “Um milhão de bactérias! Ai nojinho! Seu volante podre. Agora mais um trilhão em meus dedos, vou morrer!Lavar as mãos!Lavar as mãos!”
Porém existia um porém... a distração não a fez perceber: acabara de porrar, sim, caralho ( leia-se com os gritos da própria ) numa árvore à 80 km/h .
Pobre Dona Marta .
“Pobre o caralho!Aonde estou?”, berrou ao abrir os olhos lentamente, não reconhecendo o lugar.
Hesitou, logo não resistindo:“Lavar as mãos!Lavar as mãos!”
Agora dera o grito mais ensurdecedor de sua vida: suas mãos sumiram.
E continuou: “Lavar as mãos!Lavar as mãos!”
Leia-se: há seres cegos, mesmo tendo vários espelho à sua volta.