Invertendo os Papéis (ou: Esporro no Chefe)
Ele era falso, insosso, tedioso, covarde, metódico, certinho e bom moço e bico sujo. O bode expiatório dos superintendentes. Casou virgem aos 21 com a primeira namorada, que conheceu aos 12. Suas impressões digitais eram gastas de tanto videogame e seu rosto marcado pelas empreitadas contra as espinhas. Tinha aquela cara de areia mijada, sabe?
Há muito que muitos queriam ver seu pescoço pendurado na entrada do estacionamento da empresa.
A insatisfação era plena e nada que pudesse revertê-la acontecia.
Foi então que tive uma idéia brilhante.
O meu break começava no fim do horário de almoço do cretino - é, ele ainda almoça ao meio-dia. Ele mijava no mesmo urinol, sempre depois de ajeitar a mesma pia do mesmo jeito: duas folhas de papel, com a escova e a pasta em cima. A escova era cara e tinha um motorzinho, que zunia de forma irritante. A pasta de dente era líquida, de coloração branca, e a embalagem era parecida com uma garrafinha. Devia ser importada.
Nessa hora, normalmente, o sabonete líquido está nas últimas.
Lavei as mãos estudando a coisa, saboreando os pensamentos como se fossem uma torta holandesa. Os movimentos dele após entrar no banheiro seriam:
- Lavar as mãos.
- Arrumar a escova e a pasta sobre as duas folhas de papel na mesma pia de sempre.
- Mijar no mesmo urinol de sempre.
- Lavar as mãos.
- Enxaguá-las.
- Escovar os dentes.
- Lavar o rosto com mais sabonete liquido.
Estudei a coisa por mais dois dias - quinta e sexta - e foi a mesma ladainha robótica.
Na sexta a noite minha garota foi em casa. De vestido verde, solto, com uma calcinha PPPPP. Não demorou muito já estávamos fervendo. Essa coisa livre de freios e sacrifícios de começo de relacionamento, sabe? Trocávamos carícias com as mãos e bocas e eu sempre dando um jeito de evitar penetração/ejaculação.
No sábado ela voltou. De short jeans BRANCO que a embalava a vácuo de tão apertado. O "sofrimento" foi intenso novamente. Ela deixou um copo d'água lotado de gelo na mesinha de centro da sala, me sentou no sofá, subiu no meu colo e ficou se esfregando em mim como uma gata no cio; roçando o meio de suas pernas no meu latejante e sufocado membro, com os seios de fora, com os mamilos alcançando meus lábios. Eu tinha dado sorte. Muita sorte. Ela abriu o zíper da minha bermuda e besuntou-o da cabeça ao caule com um óleo com cheiro de morango que esquentava. Curti. Daí, ela fez gargarejo com a água sibérica e ficou alguns segundos com umas pedras de gelo na boca e depois desceu com a boca até engasgar. O que posso falar? Quase que me grudo com as unhas fincadas teto com o contato daquele choque térmico peniano. Ela mamava sem piedade alguma. Afastei sua cabeça quando estava quase lá e corri pro chuveiro de água fria, com o pau pronto pra cuspir um litro de porra. Dois dias de frenesi e sêmen reprimido. Ela veio logo atrás, puta da vida:
- Tá virando viado?
- Tô fazendo um tratamento aí, não posso ejacular durante 72 horas...
- Que tratamento é esse?
- Sei não.
- Tá virando viado ou tá me traindo?
A discussão durou uma hora inteira. Eu, na verdade, não queria fazer as pazes. Vocês sabem o que acontece depois que um casal termina de brigar.
Mas fizemos as pazes e eu fui dormir fedendo morango com os bagos tão intumescidos quanto os de um tigre no cio.
Segunda-feira de manhã fiz download de uns videos de sexo e joguei no celular. Por pouco não bato uma no banho. Ao mesmo tempo que me dava remorso por não ter comparecido com as vontades da minha garota, me dava um orgulho por conseguir manter o autocontrole com algo tão difícil e instintivo como o desejo sexual.
Ei, Sidarta, do you know me?
Coloquei aquelas porcarias no celular e fui trabalhar radiante, dando bom dia pra cavalo, até.
Como uma brisa passageira de fim de tarde, um peso na consciência me afligiu durante uns cinco segundos (sim, eu contei). Mas meus testículos, insuflados pela minha raiva eram mais pesados. SE eram...
(Mulheres maravilhosas no Metrô - pularei essa parte)
- Bom dia, bom dia, bom dia - diz o chefe sorridente. Com seu meio-sorriso falso.
- BOM DIA! - diz o coro dos poucos lambe-saco
- Bom dia, chefe - eu digo, com um sorriso cheinho de dentes (inclusive tem um doendo pra caralho).
Ele finge que não me viu ou ouviu. Cumprimenta as mesmas pessoas, na mesma ordem, com os mesmos comentários deprimentes. Engravatado como um pastor de igrejinha de fundo de quintal. O mesmo corte de cabelo no mesmo tamanho de máquina; o mesmo desenho de barba, no mesmo tamanho.
O relógio se arrastava mais devagar do que o habitual. As três horinhas custaram a passar.
Quando deu 12:40h eu avisei pra galera que ia demorar no banheiro. Pedi pra segurarem as pontas porque as minhas estavam quase se soltando.
- Tranqüilo, vai lá, cagão!
O "cagão" foi até o banheiro, abriu a saboneteira e retirou uma espécie de saco plástico que ficava dentro; entrou num reservado, baixou a tampa da privada, arriou as calças, colocou o fone do celular no ouvido e deu play no vídeo pornô. Uma mulher esguia e tatuada, depilada até no intestino, ficava de quatro pra camera se mexendo, gemendo, pirraçando, rebolando, enfiando dedos, abrindo as pernas, contraindo o esfíncter, olhando por cima dos ombros... Não demorou muito para que cagão ficasse tesudo e começasse a socar uma bronha apertadíssima. O video tinha cinco minutos. Quando ele esticou a mão pra pegar o saco que ainda tinha dois dedos de sabão liquido e começou a jorrar porra aos borbotões lá dentro, ainda faltavam três minutos pro video acabar. Tem mulher que não dá, é tenso. Cagão achou que ia ter um derrame com a violência que aquela porra acumulada subiu a uretra. Nunca tinha ejaculado tanto, o safado. Colocou saco em cima da privada, limpou-se com papel higiênico e retirou uma seringa do bolso da calça. Encheu-a com dois dedos de porra e esperou a porta ao lado fechar e saiu. Era segunda-feira e tinha strogonoff no restaurante dali de perto. O chefe almoçava lá e, por conta disso, toda segunda-feira tinha dor de barriga no mesmo horário - e na mesma privada. Cagão saiu do seu reservado e apenas por desencargo de consciência - pois já tinha sentido o perfume de rapariga de esquina - lançou um olhar pra debaixo da porta e lá estava o sapatinho do chefe com duas dobras de calça por cima. Cagão trabalhou rápido: colocou o saco de saboporra (ou porranete, como queiram) de volta na saboneteira; girou a tampa da garrafinha de pasta de dente importada do chefe, colocou o bico da seringa dentro e despejou lá seus herdeiros. O chefe deu descarga, abriu a porta e, ignorando totalmente a existência do cagão, molhou as mãos, apertou o botãozinho da saboneteira três vezes, esfregou as mãos e levou-as até o rosto. Enxaguou, destampou a pasta de dente, despejou-a na escova, ligou o motorzinho, colocou uma mão na cintura enquanto com a outra escovava os dentes. Sempre ignorando a existência do cagão, enquanto ela estava impregnada nele.