Vampiras Irlandesas.

Estávamos eu o o Dom numa cidade irlandesa, mas não sabíamos qual das Irlandas e qual cidade. Curiosamente a cidade parecia um pouco Pequenópolis, no interior do Estado de São Paulo. Até comentamos isso na oportunidade. Estranhei porque o Dom raramente concorda com alguém.

Precisávamos saber que cidade era, que país era. estávamos perdidos no meio de uma rua qualquer, como que transportados por alguma máquina do tempo. Avistamos uma sapataria clássica e rumamos pra lá, tirar as dúvidas. Bonitos calçados, por sinal, mas o preço de duzentos não sei o que nos assustou. O curioso é que o sapateiro dono era brasileiro, natural de São José do Rio Preto, velho e enrugado feito um maracujá passado. Informou-nos que estávamos em Belfast, Irlanda do Norte, e perguntamos quantos quilômetros faltava para Dublin, e ele disse que era a mesma distância entre São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.

A partir daí fomos andar um pouco para conhecer as redondezas. Nem sequer sabíamos o que estávamos fazendo ali. Estávamos, simplesmente, e isso já importava.

Estávamos famintos. Vendo uma movimentação próxima a um edifício, resolvemos entrar, quem sabe uma festa e um pouco de comida. Subimos as escadarias e chegamos em um andar onde haviam mesas abarrotadas de frutas frescas, maçãs, mamões, peras, uvas, tudo fresco e partido. Pegamos algumas peras e maçãs e ficamos num canto comendo. A fome era muita e não tínhamos um puto furado nos bolsos.

Fiquei comendo num canto, assustado com os demais freqüentadores, que poderiam desconfiar e nos mandar embora. Nisso o Dom sumiu. Acabei de comer e desci as escadas à sua procura. Escadas sem fim. Um sujeito irlandês, calado, veio atrás de mim. Eu corria as escadarias e ele a passos lentos, mas ele sempre estava no meu encalço. Cheguei no térreo e não havia cidade nem prédio, mas um sistema de “cata-ventos” perigosíssimo, com lâminas giratórias enormes. Saí correndo meio agachado e fui parar num terreiro de plantas rasteiras, espinhentas, até que vislumbrei um pessoal à frente, em um quiosque, como que festejando. Já era noite e nada do Dom.

Quando me aproximei com o tênis e a calça cheios de timbetes, pude ver umas irlandesas maravilhosas recostadas nas paredes conversando. A princípio achei que eram garotas de programa. Não resisti e passei encarando, boquiaberto. Não resisto mulheres irresistíveis!

Elas bebiam uma bebida avermelhada. Pensei ser vinho. Queria também, mas não tinha dinheiro. Todas ficaram me olhando, estranhamente. Uma disse de longe, no que pude ler seus lábios. Seus dentes são amarelos demais e um bom beijo meu pode clareá-los! Achei muito estranho aquilo. Foi quando vieram até mim e me cercaram em círculo, de mãos dadas...

Queriam meu sangue!

Eram vampiras irlandesas! E falavam português...

Tentando me desvencilhar, acordei...

Savok Onaitsirk, 15.03.10.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 25/10/2010
Código do texto: T2577173
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