CONTOS AVULSOS – REMÉDIO PARA IMPOTÊNCIA

Da série : CONTOS AVULSOS

Nos idos dos anos setenta a impotência sexual masculina era um mal quase que sem cura e os sujeitos que sofriam de brochura eram verdadeiros desgraçados que formavam uma safra gorda para psicólogos e psiquiatras , únicos profissionais que conseguiam tratar dos infelizes, muito mais para atenuar o sofrimento psíquico do que propriamente ajudar na ereção do debilitado membro masculino desses machos “doentes”.

E para aumentar ainda mais a impiedosa malícia coletiva , nos ambientes masculinos o tabu ganhava proporções ainda maiores quando alguém sempre comentava : - “Tem que descobrir o rol dos brochas, para poder atender a mulher insatisfeita” . Em outras palavras, o sujeito além da impotência era tratado no imaginário popular como um potencial corno ...

No mercado não existia uma gama de remédios , a não ser chás, raízes e outros tratamentos alternativos e na onda do Brasil que conquistava o tricampeonato mundial fazendo-se dono da Taça Jules Rimet, foi lançado um medicamento que prometia auxiliar em muito no trato da impotência sexual , contudo , a nova droga tinha como princípio ativo a mesma substância da estricnina , um veneno poderoso e muito utilizado para matar ratos. O dito remédio apenas possuía a substância em doses mais baixas.

As doses reduzidas do princípio ativo da estricnina atuavam diretamente nos vasos , no emaranhado de veias que irriga o tecido peniano, permitindo uma melhor circulação do sangue e, consequentemente, melhorando a ereção do membro sexual masculino . Dizem que essa descoberta revelou-se muito importante no caminho da medicina que desde então buscou dar novas definições aos tratamentos e , mais tarde , cuidando de retirar um pouco do estigma da “brochura” e da impotência, passando a tratar o mal com um nome mais sutil : - disfunção erétil .

Tião Malafaga era o proprietário de uma das mais tradicionais farmácias da cidade, tanto que na fachada ainda era grafado o nome do estabelecimento como “Pharmácia” e era um ponto de encontro para muitos idosos que iam buscar medicamentos aviados, num tempo em que os fármacos de laboratórios industriais ainda não eram tão difundidos. Brincalhão e muito “bocudo”, Tião era conhecido pela gritaria na rua principal e consagrado como um sujeito muito carismático.

Chico Neves era um dos assíduos freqüentadores da Pharmácia e já estava para lá dos seus sessenta anos mantendo, todavia , a fama de homem galanteador, freqüentador assíduo da zona do meretrício e tido como um dos principais clientes da boate “Farol Vermelho”, da qual andava meio ausente , gerando rumores cruéis quanto ao seu desempenho nos lençóis.

Os faladores da cidade até comentavam que ele estava migrando para uma zona mais popular , chamada “Pau do Meio” , à procura de prostituas mais “dedicadas” e dispostas a certas depravações que as “fiéis combatentes” do “Farol Vermelho” não atendiam. Tudo visando aumentar sua libido , diziam as más línguas ...

Foi numa dessas visitas ao estabelecimento de Tião que o Chico Neves confessou ao velho amigo as dificuldades constrangedoras que estava encontrando e , de pronto ele lhe entregou uma caixa do novo medicamento , mas puxando-o para um lado advertiu da necessidade de consumo moderado, diante do perigoso princípio ativo da nova droga – a estricnina.

“Tem que maneirar na dose, viu ?!”

Meio assustado, mas confiante Chico Neves saiu com o remédio bem escondido no bolso interno do suéter e dizem que na mesma noite tomou o rumo do “Farol Vermelho” para , como convém , testar a eficiência do remédio . Tudo teria andado às mil maravilhas, segundo comentários que correram soltos já na manhã seguinte e chegaram ao conhecimento de Tião nas primeiras horas de expediente comercial.

Perto do meio dia , quando preparava-se para fechar a Pharmácia e ir para o almoço , Tião Malafaga viu que apontava na esquina a figura impoluta de Chico Neves, de peito estufado e “bico empinado” , ostentando um orgulho renovado . Como haviam muitos transeuntes na calçada, Tião curioso e ao mesmo tempo sarcástico, gritou para seu cliente e camarada a seguinte frase:

- “ E aí Chico , vejo que o “Paciente” se recuperou e ao que parece o novo remédio deu certo !!!

A resposta de Chico Neves foi muito interessante e passou a integrar os comentários e o folclore da pequena cidade, sobrevivendo por gerações . Teria ele dito:

- “Foi tudo bem Doutor Tião , o ‘paciente’ até que se recuperou e levantou” , mas só tenho a lhe reclamar que ele não conseguiu expectorar”