A CURA

Tive sede,

Pedi água,

Deram-me água envenenada.

Penei pelas estradas,

Dedei caronas,

Respirei poeiras,

Insistir nas caronas,

Mas continuei sozinho.

Vaguei por desertos infindos,

Acompanhei caravanas,

Estive doente na tenda,

Agonizei no leito,

Debelei-me a procura da cura.

Implorei ajuda,

Rastejei para não morrer,

Estive a beira da loucura,

Meus olhos ficaram vermelhos,

Senti impulsos suicidas.

Tive sede,

Pedi água;

Deram-se água.

Fugi do oásis,

Fui para as montanhas,

O frio me cortou,

Chorei por um agasalho,

Deram-se uns trapos.

O veneno me corroeu,

Dilacerou minha carne,

Arrancou meu sorriso.

Minhas pernas estavam tíbias.

Voltei,

Caí nas calçadas,

Mendiguei a cura,

Senti o escárnio do mundo,

Meu rosto queimou.

Tive sede,

Pedi água;

Não me deram água.

Clamei a Deus pela morte,

Pedi perdão,

Implorei clemência

Do veneno e do frio.

A dor implacável

Apodreceu meu estômago,

Senti o fétido cheio do veneno.

Rastejando

Fugi para a floresta,

Onde encontrei a cura.

Jacy Bastos

JACY BASTOS
Enviado por JACY BASTOS em 03/10/2006
Código do texto: T255564