imagem:soalagoas.blogspot.com
Sai desse corpo que não te pertence!
Entendia que sempre haveria prazeres e obrigações na amizade. Por óbvio, o prazer estaria na presença, na confraternização, na partilha, nas comemorações das alegrias, das vitórias e a obrigação, em se fazer presente e solidária num momento de crise, na tristeza e na dor da partida de um ente querido.
O fato é que, nas obrigações da amizade, se fez solidária com uma colega de trabalho quando soube que os restos mortais de seu avô ‘desembargador ’ seriam retirados do cemitério local e transferidos para o mausoléu da família em outro estado.
Inusitado momento, a cerimônia do funeral ao contrário não lhe parecia nada agradável, mas, por solidariedade, se ofereceu gentilmente para acompanhar a colega e dois ou três familiares para realizar a tarefa.
Fim de tarde no bucólico cemitério de mausoléus com estilos que variavam entre o solene soturno exagerado e o gosto duvidoso de pedreiros e familiares sem noção, capelas com velórios discretos.
Vez ou outra murmúrios em uníssonos de rezas ou cânticos de despedida “Não temas/ segue adiante e não olhes para trás/Segura na mão de Deus e vai” ...“No céu, no céu com minha mãe estarei...” e o suntuoso caixão do desembargador saiu da gaveta, lacrado. Pouco mais de quatro anos se passara do enterro concorridíssimo e agora o “desenterro” acontecia naquela solidão de fim de tarde.
Retirar ossos de um caixão não deveria ser mesmo uma cena agradável de ver e por isso todos - menos o coveiro que fazia isso todos os dias - pareciam contritos, pensativos, solenes, mas a curiosidade falou mais alto e a solidária amiga não resistiu e “colou” ao lado do caixão. De olhos arregalados viu ossos, cabelos, roupas dissolvendo-se consumidas pelo tempo e ... baratas! Centenas de baratas correndo e voando para o alvo mais próximo: a figura plantada diante do recém-aberto caixão.
O silêncio daquele fim de tarde no cemitério foi quebrado com gritos de terror. A elegante moça de longos cabelos negros e escovados “atacada” pelas baratas perdeu a compostura, pulou e gritou desesperada puxando os cabelos, arrancando os botões da blusa, jogando fora o salto quinze.
E quem só viu de longe o chilique e ouviu os gritos de “SAI, SAI” e “AI MEU DEUS até hoje espalha por aí que o desembargador fez da moça seu “cavalo” e aquilo era a luta sem trégua de duas almas para ocupar aquele corpo.
Sai desse corpo que não te pertence!
Entendia que sempre haveria prazeres e obrigações na amizade. Por óbvio, o prazer estaria na presença, na confraternização, na partilha, nas comemorações das alegrias, das vitórias e a obrigação, em se fazer presente e solidária num momento de crise, na tristeza e na dor da partida de um ente querido.
O fato é que, nas obrigações da amizade, se fez solidária com uma colega de trabalho quando soube que os restos mortais de seu avô ‘desembargador ’ seriam retirados do cemitério local e transferidos para o mausoléu da família em outro estado.
Inusitado momento, a cerimônia do funeral ao contrário não lhe parecia nada agradável, mas, por solidariedade, se ofereceu gentilmente para acompanhar a colega e dois ou três familiares para realizar a tarefa.
Fim de tarde no bucólico cemitério de mausoléus com estilos que variavam entre o solene soturno exagerado e o gosto duvidoso de pedreiros e familiares sem noção, capelas com velórios discretos.
Vez ou outra murmúrios em uníssonos de rezas ou cânticos de despedida “Não temas/ segue adiante e não olhes para trás/Segura na mão de Deus e vai” ...“No céu, no céu com minha mãe estarei...” e o suntuoso caixão do desembargador saiu da gaveta, lacrado. Pouco mais de quatro anos se passara do enterro concorridíssimo e agora o “desenterro” acontecia naquela solidão de fim de tarde.
Retirar ossos de um caixão não deveria ser mesmo uma cena agradável de ver e por isso todos - menos o coveiro que fazia isso todos os dias - pareciam contritos, pensativos, solenes, mas a curiosidade falou mais alto e a solidária amiga não resistiu e “colou” ao lado do caixão. De olhos arregalados viu ossos, cabelos, roupas dissolvendo-se consumidas pelo tempo e ... baratas! Centenas de baratas correndo e voando para o alvo mais próximo: a figura plantada diante do recém-aberto caixão.
O silêncio daquele fim de tarde no cemitério foi quebrado com gritos de terror. A elegante moça de longos cabelos negros e escovados “atacada” pelas baratas perdeu a compostura, pulou e gritou desesperada puxando os cabelos, arrancando os botões da blusa, jogando fora o salto quinze.
E quem só viu de longe o chilique e ouviu os gritos de “SAI, SAI” e “AI MEU DEUS até hoje espalha por aí que o desembargador fez da moça seu “cavalo” e aquilo era a luta sem trégua de duas almas para ocupar aquele corpo.