Raro momento de inexplicável melancolia
Ele já sabia. Há muito ele já sabia, não adiantava se enganar. Ele sempre soubera.
Por mais que tudo e todos lhe direcionassem pra outra resposta, nada importava, pois a verdade absoluta já o dominava por completo.
Tudo sempre fora uma grande ilusão; um devaneio; uma aventura de sua fértil imaginação, que, com a ajuda de muitos, foi crescendo cada vez mais. Mas, em seu íntimo, reinava apenas a sua opinião e, lá, ninguém o tocava.
A ilusão se fora no exato momento em que as palavras mais amargas, sem propósito de sê-las, ecoaram da boca dela com entusiasmo e alegria. Alegria essa que o fez desmoronar por dentro; quebrar; abrir um buraco que jamais se fecharia...só ela fecharia, e não poderia mais fazer isso; não poderia neste momento.
Não sabia o que ela sentia. Como poderia? Não sabia nem o que ele próprio sentia, só sabia que fora algo bom, peculiar e intenso... O sentimento mais intenso e inexplicável capaz de ser sentido.
Mas tudo ficara cristalino de novo, como sempre fora. Tudo em seu devido lugar. As respectivas peças em seus respectivos moldes. E essa organização o dilacerava; o fazia queimar por dentro e querer queimar todos a sua volta, inclusive ela... Principalmente ela.
Mas, infelizmente, ele era otimista demais pra isso. Não conseguiria extingui-la de sua vida, pois ainda restava um fino fio de esperança, e bastaria um sorriso, um olhar ou uma palavra, para que o fino fio se transformasse em um grosso novelo, novamente, e isso era a única coisa de que ele tinha certeza. E o que restava fazer? Simplesmente... Esperar. Esperar por algo que, talvez, nem viesse a acontecer.