Texto errado persistente
A areia foi entrando pela boca, me sufocando de grão em grão. Preencheu meu pulmão e o tornou duro feito pedra; meu ar doeu. Respirei forte pelo nariz, numa tentativa de recuperar a facilidade de viver, mas acabei por misturar catarro à volumosa massa de areia. Entupi e cuspi. Foi então que o desespero deu o primeiro passo: comecei a me debater, ansiando por fugir dali e sentir a emoção de escapar, estar a salvo de um perigo que não foi perigoso o bastante para me aniquilar. Observá-lo de longe achando tudo engraçado. O alívio. Todavia esse instante agonizante nunca cessava, e a questão da eternidade causou-me um temor triste. Entreguei-me às lágrimas. A areia foi descendo e encontrando todos os espaços deixados vazios até chegar ao coração. Disparou pelo corpo um calor incomum de felicidade; um que ao inverso subia. Voltei minha mente à uma conexão celestial. Rezei, rezei e chorei. No fim, misturei tudo: lembranças perdidas e resgatadas, sofrimentos arrependidos, carinhos infantes, uma loucura adolescente de fuga rápida, a virgindade dos encontros verdadeiros, braços abertos como feridas fraternas, caminhada frustrada de homem, imagem de indescritível realeza, aquilo que entendi como amor - vomitei! Arrebentei minha traqueia com as unhas, chamando a visão infernal do ódio vermelho enlamado na areia. Meus olhos piraram, virando pra dentro e encontrando meu coração quase em cima. Ele pulou para fora pelo buraco da garganta. Fuga. Não permiti, mas meus braços não mexiam há anos, então pensei em explodir. As vitórias derrotadas com o êxito fulano na arena arrasada, pela perda da vida foram premiadas com a morte dum corpo cuja alma venceu, tenra e ilusória. Fiquei errado.