Um objeto estranho

MEXENDO NO BAÚ DO TIO DUDU.



 
(Baseado em fato Real)
Toni tinha 16 anos, estudava numa Escola Técnica de Aprendizagem Industrial em uma pequena cidade de Minas Gerais. Antes, porém, tinha ficado na casa de seu tio viúvo noutra cidade concluindo o curso primário. Seu tio tinha o hábito de guardar tudo, todo tipo de tralha. - Um dia a gente pode precisar – dizia ele. Por outro lado, Toni gostava de mexer em tudo que não era de sua conta. Certo dia, quando procurava uns pregos em uma caixa de madeira, deu com uma dentadura, ou seja, uma ponte móvel de ouro. Toni pegou aquele objeto, inicialmente, com medo, depois foi se familiarizando com ele. Ficou sabendo que aquele aparelho pertencia à sua tia que havia morrido alguns anos atrás.
- Bem, vou guardar este objeto dentário, pois este ouro pode valer alguma coisa, - pensou.
O tempo passou e Toni foi estudar naquela Escola mencionada no início desta história. Sua família passava por situação difícil na época e o dinheiro remetido não dava para qualquer coisa extra. O aperto levou-o a tomar uma decisão: vender a ponte dentária para um dentista.
Toni botou o objeto no bolso e pensou – “daqui tem que sair alguma grana.” Foi até ao consultório vendê-la. Aproximou-se para entabular uma conversa, com o dentista, mas no meio do caminho empacou, devido a sua timidez. Pensou..., - “esse dentista vai querer saber onde achei esta ponte. Que possivelmente eu desenterrei um defunto e tirei sua ponte de ouro. Talvez ele vai denunciar-me à polícia. Já pensou? Eu preso por causa de uma dentadura de defunto? “
Sua mente ficou cheia de pensamentos não muito positivos. Ficou por ali, bem perto do consultório. Passeava de um lado para outro com as mãos nos bolsos, uma segurando o objeto, um “Tesouro”. Dado momento apareceu a secretária do dentista e perguntou:
- Você quer marcar alguma consulta? – Se for urgente, vou falar com o Dr. Nagib.
- Não, não, não quero consultar. Só estava aqui de passagem. Até logo; foi saindo de fininho.
No dia seguinte, Toni acordou com aquela realidade nua e crua. Estava como antes, sem dinheiro nem para tomar um refresco. Mas aquele objeto valia dinheiro. Tinha que tentar novamente. Assim o fez.
No dia seguinte foi para a escola de macacão azul e de boné, parecendo mais um funcionário de ferrovia ; num dos bolsos, colocou o objeto de sua ansiedade ou de sua salvação financeira. “Assistiu” a aula pensando num plano de como chegaria ao dentista para vender o ouro.
Na volta da Escola, passou novamente pelo consultório. Parou, pensou, pensou..., esse cara vai querer comprar esse ouro por uma ninharia, certamente vai me achar com cara de bobo. Vai fazer tantas perguntas a até mesmo contar a meu tio; - “fofoqueiro” pensou.
Novamente aparece a secretária.
- Acho que você está com um problema. Já é a segunda vez que te vejo aqui. Pode falar. Está sentindo muita dor? – O Dr. Nagib tira seu dente em um minuto.
- Não, não, pelo amor de Deus, meus dentes estão muito bem, não tenho nada.
Àquela altura Toni pensou,” esta secretária está querendo me paquerar”.
A secretária insistiu. Vamos entrar e sentar um pouquinho, acho que você está muito nervoso. Tenho um calmante bom para estes casos...
Toni já estava suando frio. Percebeu as intenções da secretária. Seu negócio era dinheiro e não namoro. Caiu fora dali o mais rápido que pôde. – Mas tudo ficou do mesmo tamanho, nada de negócio, nada de dinheiro.
Já era tarde, Toni dormiu cedo e teve pesadelos. Sonhou com uma mulher descabelada e desdentada que reclamava sua dentadura. Acordou suando e com muito medo. Pensou. “Não adianta – a dona deste objeto está me atrapalhando de fazer negócio”. Assim, tomou outra decisão; dar sumiço naquele objeto macabro o mais rápido possível. No dia seguinte, bem de manhã, foi até ao quintal, cavou um buraco bem fundo e colocou ali os motivos de seus tormentos. Tapou o buraco e com ele a esperança de mais um dinheirinho no final do mês e dormiu um sono sossegado.


 
ateleszimerer
Enviado por ateleszimerer em 28/09/2010
Reeditado em 09/08/2013
Código do texto: T2525019
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