Pesadelo Verde

Pesadelo Verde

Cá estou eu, numa clareira qualquer, em meio a vastidão do Inferno Verde; situado ao Norte do Brasil. Chamo-me Menelau, sou botânico e represento uma poderosa empresa de cosméticos. Não sei precisar ao certo, mas já estou vagando faz um bom tempo, talvez uns dois dias. Me perdi da expedição, cujo objetivo era catalogar novos tipos de vegetais que futuramente poderiam ser úteis a indústria.

Transitei em meio a selva escura e úmida, passando por enormes seringueiras incrustadas de cogumelos. A floresta musgosa, minava as minhas energias haja vista, que o calor era insuportável e a locomoção era difícil devido a topografia do local. Mantenho firmemente em minhas mãos uma filmadora que me permite documentar estes momentos difíceis pelo qual estou passando.

A clareira, é a minha única salvação penso eu. Nela posso fazer uma grande fogueira e assim alertar possíveis equipes de busca que já devem estar atrás de mim. A minha provisão está no fim; assim decidi unir o útil ao agradável e montar acampamento nesta faixa de terra sem vegetação na esperança de ser localizado e quiçá encontrar algum animal comestível perambulando.

A minha comida acabou, já estou há três dias na selva e nem sinal de qualquer outro ser vivo; a não ser alguns macacos que com suas caras irônicas parecem zombar do meu flagelo do alto das suas árvores. Morro de sede e a minha única opção é sorver minúsculas gotas de orvalho que se projetam na superfície das folhas. Por alguns instantes penso ouvir grunhidos guturais; mas não dou importância aos mesmos, pois com certeza já devo estar com leves alucinações provenientes da situação etressante que é estar perdido.

Quarto dia de tormento, acho que já estou prestes a desmaiar, o meu organismo fadigado pede algo sólido mas só encontra pequenas quantidades de orvalho como dízimo. De repente, ouço a gritaria dos macacos a minha volta. Filmo a cena inusitada de um macaco que masca uma folha arrancada de uma planta que eu nunca havia visto. Me dirijo até o local onde o símio se encontrava e recorto com as mãos um pedaço da planta. O meu instinto se nega a aceitar “o alimento”, porém a fome que me consome é por demais sagaz. Em um gesto desesperado, mastigo uma pequena porção do vegetal e sinto que o mesmo possui um gosto adocicado.

O sol bate inclemente em meu rosto, graças a Deus possuo um saco de dormir. O que seria de mim sem a proteção mínima do invólucro. Tive uma noite de sono bastante conturbada; o que é bastante natural levando em consideração o estado inusitado em que me encontro. A equipe portava um GPS; lanço todos os tipos de sortilégios por não tê-lo em meu embornal. Pela posição do sol presumo já estar na metade do dia. Assim sendo, dou-me conta da fome implacável que assola o meu organismo. Nossa como eu pude dormir tanto?

Lembrei-me do dia anterior, especificamente do momento em que masquei a planta. Resolvo sorver um pouco de água do cantil e noto que as mesma escorre pelo meu pescoço. Meio desnorteado com a sensação inusitada pego um fragmento de espelho do embornal e...

- Meu Deus! Meus lábios! Estou sem os lábios!

No exato instante, como que por encanto surgem símios com os rostos deformados. No princípio como a me estudar os mesmos ficam do alto das árvores. Estes são bem maiores que os que eu já havia avistado. Em um estado de torpor consigo ter um último raciocínio; e associo a minha deformidade adquirida ao mascar da estranha planta. Provavelmente estes estranhos macacos também a mascam, daí as suas faces serem deformadas.

Já estou certo da minha morte, estranha e inesperada nesta localidade isolada de tudo e de todos. Os animais avançam, e parecem farejar o meu medo. O maior deles desce da copa da árvore e emite um grunhido pavoroso digno das zonas mais abissais dos mundos inferiores.

O ser cinza de média estatura, avança em minha direção com os dentes à mostra e também desprovido de lábios. Que vegetal seria este capaz de saciar a fome inicial e posteriormente enlouquecer e deformar qualquer ser vivo que dela se alimente?

Sem muita coordenação motora, corro desgovernado pela mata tendo no meu encalço criaturas dignas de Lovecraft. Um turbilhão de pensamentos ecoam em minha mente e toda a minha existência se descortina em milésimos de segundos. Sinto o bafo quente em minhas costas e garras prestes a serem fincadas em meu frágil corpo. Tento inutilmente continuar correndo porém vem o baque e tudo escurece.

Acordo no meio de uma grande clareira e percebo que tudo não passou de um delírio onírico. Bebo um pouco d’água e noto que a mesma escorre pelo meu pescoço...

Leonardo Costa Santos Borges.

Leonardo Borges
Enviado por Leonardo Borges em 07/09/2010
Reeditado em 10/09/2010
Código do texto: T2484550
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