Infeliz aniversário
Tião aproximou-se de Cleuma e disse que faltava só uma semana para o aniversário do filho deles, o do meio, e precisavam arrumar as coisas para a festinha. Era a família mais festeira da rua. No mínimo, três por ano, no aniversário de cada um dos três moleques. Ainda bem que faziam anos de forma espaçada, fevereiro, junho e novembro, o que ajudava sobremaneira nas despesas.
Mas desta vez, a situação estava por demais ruim, pois Tião se encontrava desempregado desde a última festa e Cleuma fazia uns bicos numa oficina de costura, trocando zíper e botão em roupas. Porém, ganhava uma bagatela. O moleque mais velho, de 19 anos, era balconista numa loja de calçados e entregava a metade do parco salário à mãe. Os outros dois irmão eram muito novos para fazer algo que desse dinheiro.
Então Tião teve uma idéia que achou brilhante. Faria a festa com pouca comida e bebida e começaria às oito horas da noite, de um domingo. “A essa hora, todos já jantaram, vão comer pouco aqui”, argumentou com Cleuma. Ela não entendeu bem a lógica, mas deu de ombros. Tirar algo da cabeça do marido era mais difícil que extrair leite da montanha.
Os convidados começaram a chegar aos montes. Duas horas depois, Tião comparou proporcionalmente a massa humana ao que tinha para comer e beber e notou que havia exagerado na quantidade de convites.
Até aquele momento, ninguém na família tinha passado as bandejas com sanduíches nem bebidas, e os convivas estavam ficando impacientes. Cleuma percebeu e preparou a primeira leva de sanduíches. Eles tinham comprado 50 pães franceses. Cortando ao meio, dariam cem lanches de molho de carne moída. E não havia este número de convidados na casa, talvez a metade.
Cleuma apenas não pensou na hipótese de os convidados, por causa da demora, pegar mais de um sanduíche. A centena de lanches e as sete garrafas de refrigerante de marca desconhecida não deram nem pro cheiro. Muita gente ficou sem comer. Só restavam as fatias de três tortas de frango que ela havia assado e o minúsculo bolo. Tião tentou comprar mais bebida a fiado, mas não encontrou nenhum comércio aberto àquela hora. O perigo de revolta na casa era iminente.
De repente, um dos convidados teve a idéia de ir embora. Por vingança, levou de volta o presente que trouxera para o aniversariante. O ato foi repetido pelos demais. Nem esperaram cortar o bolo.
A família comeu sozinha todo o bolo. Os cinco também estavam esfomeados. Depois, Cleuma foi ao quarto onde dormiam os filhos e notou que na cama do aniversariante não havia nenhum presente. Os convidados levaram até os dois que ela e Tião compraram.