Um Conto Bem Estranho
Um belo dia o caminhão dos bombeiros chega ao local do sinistro. Um louco cometera suicídio. O capitão grita:
_ Alguém testemunhou a tragédia?
Levantando o dedo, uma criança se aproxima e diz:
_ Eu! ... Eu vi... Tudo...
_ Conte-nos o que viu, meu jovem.
Olhos rasos d'água:
_ Eu vi aquele homem se arremessar do terraço do hospital berrando LI-BER-DA-DE!
E acrescentou:
_ Quando estava pra atingir o chão ele sorriu e acenou pra mim. Penso que era um anjo.
Enternecida, uma senhora de idade se curva para o menino:
_ Meu bem, se ele fosse um anjo certamente teria aberto suas asas a alçar voo.
E o garoto:
_ Você não compreende. Este corpo encoberto está morto, mas o seu sorriso e seu aceno pra mim vão sempre me fazer lembrar de quem sou agora. Esta compreensão e o estranho, mas belo, sentimento que agora vivo, tão real e ao mesmo tempo fugaz, nunca evasivo, fruto do macabro e do divino, serão sempre minhas asas pra voar.
A sirene toca novamente _ três carros de polícia.
_ Alguma testemunha? Grita o primeiro a descer de um dos carros.
Todos olham em volta duas, três vezes, nada. O garoto havia sumido. Um policial retira a carteira do bolso da calça jeans do morto e encontra uma foto antiga, um tanto quanto amarelada, de uma mulher esbelta a segurar a mão de um menino de lá seus 10 anos de idade.
O capitão dos bombeiros confirma: é o mesmo garoto que testemunhara o incidente.
Atrás da foto, de caneta azul:
"Eu e minha querida mãe na minha festa de 1ª comunhão.
Cristóvão Dias"
Cristóvão Dias. O mesmo nome que constava da identidade do sinistrado.