Sacola de supermercado

Bando assalta supermercado na Lapa

Três bandidos assaltaram ontem à tarde o Supermercado Pereira, na Lapa, Zona Oeste da Capital. A polícia foi chamada e após tiroteio matou um dos assaltantes, prendeu outro e o terceiro, uma mulher, fugiu com o dinheiro. O trio entrou no mercado e fez compras normalmente. Antes de passar pelo caixa, eles renderam o gerente e mais dois funcionários. Foram até o cofre e encheram algumas sacolas da loja só com notas de valor alto. A assaltante, morena e alta, aparentava 25 anos, segundo testemunhas. “De posse da fita, vamos apurar e encontrar esta meliante o mais rápido possível”, garantiu o delegado encarregado do caso. O gerente do estabelecimento não informou a quantia roubada. (Da redação)

Fernandirce pegou o ônibus para sua casa. Estava cansada de tanto trabalhar. Ainda bem que era sexta-feira. Durante a semana, havia feito tudo o que uma empregada doméstica é capaz. Lavou, passou, limpou, esfregou, levou bronca e até chutou o cachorro chato da sua patroa. Apreensiva, não via a hora de chegar em casa para fazer comida para os gêmeos Graciano e Gracileide.

Os garotos, de nove anos, ficavam sozinhos em casa, com o portão trancado. Fernandirce não tinha com quem deixá-los e precisava trabalhar. A vizinha olhava os dois, mais ou menos, esquentava o almoço deles, que a mãe deixava pronto na geladeira, mas não abria o portão, seguindo a risca os pedidos de Fernandirce.

Ela pensava na vida enquanto olhava para fora através da janela do ônibus. De repente, levou um susto. Duas viaturas da polícia passaram em alta velocidade, tocando as sirenes para abrir caminho no trânsito.

Alguns minutos depois, o ônibus parou no ponto em frente a um grande supermercado. Três pessoas subiram, entre elas uma moça, assustada, que se sentou ao lado dela, colocando no chão, perto dos pés, algumas sacolas do mercado e ficou com outra no colo. “Coitada, deve estar cansada de tanto trabalhar e ainda tem de levar sacolas pesadas para casa”, pensou Fernandirce.

A garota abaixou a cabeça e tapou o rosto com as mãos, como se estivesse rezando ou chorando. Fernandirce pensou em puxar conversa, mas deixou para lá. Alguns pontos depois, a moça pegou rapidamente as sacolas e desceu. Cinco minutos após, Fernandirce chutou, sem querer, algo nos pés e só então notou que a garota havia esquecido uma de suas sacolas. Pegou, abriu e mal acreditou no que viu. Vários pacotes de dinheiro. Um monte. Mais de cinco quilos de dinheiro.

Quis descer e procurar a moça. Mas estava muito longe e nem se lembrava mais onde ela tinha descido. Não sabia o que fazer. Apertou a sacola ao peito, assustada. “O que faço com isso, meu Deus?.”

Em casa, guardou a sacola sem que os meninos vissem. No jornal da televisão ficou sabendo do assalto e viu o retrato falado da assaltante que fugiu. Era a garota que se sentou ao seu lado no ônibus. Na madrugada, acordou e foi para a cozinha contar o dinheiro. Antes trancou a porta do quarto para que seus filhos não a flagrassem. Ficou contando, separando as cédulas por valores, fez vários montinhos. Mesmo assim não conseguiu contar tudo. Sem muito estudo, ela se atrapalhou com a matemática. Mas sabia por alto o quanto era. Nunca tivera tanto dinheiro na vida. Uma fortuna.

Não voltou para a cama. Perdera o sono. Dali a pouco iria amanhecer. Ela teria de lavar a roupa dos meninos da semana inteira, limpar a casa, fazer comida e ainda suportar a presença do ex-marido, Geosvaldo, que a deixara para viver com outra mulher. Todo sábado, na hora do almoço, ele vinha visitar as crianças e ultimamente vivia reclamando da vida. Estava sem emprego, bebendo todos os dias, pois a outra o abandonara. Queria voltar a viver com a antiga esposa, como se nada tivesse acontecido. Fernandirce chorou, mas recompôs-se rapidamente.

Ao meio-dia, Geosvaldo saiu do boteco onde tomara duas cachaças e um rabo-de-galo e bateu palma no portão de Fernandirce. A vizinha lhe disse que ela havia saído cedo num táxi, levando malas, as crianças e uma sacola de supermercado na mão. “E deixou um bilhete pra você”, disse a mulher. Com as mãos trêmulas de bêbado, Geosvaldo pegou o pedaço de papel e juntou as letras tortas e toscas de Tiana e leu: “Vai pru infernu.”