Mudança Legal - Na Escola III

Na escola III

Era impressionante ver como aquele momento na cidade começou a ser referência para mostrar até que ponto aquelas pessoas que pareciam tão tranqüilas começavam a se mostrar totalmente desequilibradas com os acontecimentos.

Passei a notar e a perceber que só estamos tranqüilos até o ponto que não mexam em nossas estruturas mais íntimas e quando isso acontece aí desperta a fera que existe dentro de nós.

Nas reuniões quinzenais a orientadora já dava sinais de cansaço porque se apresentava um número muito grande de problemas de indisciplina. Comecei a ficar preocupado por que nós éramos dos poucos moradores novos egressos de uma cidade grande e de hábito sempre acontece as piadas veladas. Era muito difícil para mim conviver com aquilo.

Meus filhos já rapazes e o tempo que morávamos ali já era o suficiente para algumas avaliações mesmo que ainda existissem algumas dúvidas. Em realidade sempre discutíamos a questão do progresso que trás sempre suas conseqüências. Nesta época o computador já começava invadir a pequena cidade e a rede se estendia de forma que ficava inviável proibir, mesmo porque, jamais seria uma ação educadora. Precisávamos orientar e aí estava a dificuldade maior porque para orientar não podemos nos envolver e ser imparcial é extremamente difícil.

A vida é feita só de desafios e estávamos vivendo pra isso. Lembro-me de quando surgiu o envolvimento de uns alunos com drogas e a conseqüência foi terrível, porque em princípio tentou-se burlar para que não viesse ao conhecimento da comunidade, uma vez se tratar de jovens tão bem relacionados socialmente falando. O filho do delegado ? Nossa um escândalo! O filho do promotor também? Caramba! O pior é o médico que dizem estar associado a rede de traficantes. Imaginei naquele momento estar envolvido num abismo sem volta. Agora o que faremos ? Conversando com os outros conselheiros chegamos a conclusão que não poderíamos nos afastar da verdade sob pena de não conseguirmos parar aquela avalanche de dificuldades que caia sobre nossas cabeças.

Fiquei pensando em tudo que já havia vivido e que aquela situação era sem dúvidas a pior de todas as minhas experiências. Em nossas reuniões todos não queriam falar do assunto, afinal machucaria muito a cada um de nós. Não tínhamos certeza de nada e tudo não passava de apenas boatos para nós.

Fomos buscar recursos suficiente para poder lidar com tudo aquilo e a escola sofria também uma mudança fantástica e precisávamos repensar o modelo de educação que oferecíamos as nossas crianças. Discutimos bastante a Escola Grega. Por que saímos da essência e o que está acontecendo com todo esse pragmatismo? Deixar de humanizar está funcionando? Viver esse universo de consumo insustentável tem nos levado à paz interior ou tudo isso é uma grande ilusão? Precisamos encontrar o caminho. Sabíamos disso, mas às vezes tínhamos dificuldade de admitir a nossa incompetência diante dos desafios e preferíamos fugir ou pensar que era assim mesmo ou que um milagre aconteceria e de repente o planeta se tornaria outro porque viria um Messias e num passe de mágica mudaria tudo. Quem veio aqui para ensinar e mostrar o caminho foi claro dizendo que antes de mudarmos o mundo precisaríamos mudar a nós primeiro. A escola precisava mudar, as instiuições precisavam mudar, o homem precisa mudar.