Mudança Legal - Na Escola II

Nesta escola havia uma professora que já havia morado no Rio e como conversávamos muito e ela sempre muito simpática brincava comigo, dizendo que me achava triste por sentir falta das badalações noturnas da cidade maravilhosa.

Algumas vezes sorria como se concordasse com ela, sabendo que todo o processo que passava, ainda era conseqüência da mudança e que se refletia nas relações.

Aos poucos fui percebendo que os problemas existentes na cidade pequena são os mesmos da cidade grande e comecei a notar que as crianças também faziam distinção e separavam-se por vários motivos e isso causava algumas dificuldades. Notei que por vezes a pressão torna-se até mais cruel por ser menor o espaço, as coisas acontecem mais rápido e com um efeito bem mais assustador.

A discriminação racial muito embora seja velada existe, a separação religiosa essa então é bem contundente e as vezes causando marcas profundas.

Como morávamos numa área mais pobre da cidade e por não termos condição era bem difícil participarmos dos encontros sociais existentes na cidade. Assim também os meninos tinham suas dificuldades com seus amiguinhos na escola. Nunca podiam participar dos eventos no Clube da cidade. Entendemos que não estávamos tão distantes de tudo que já vivemos, mas que era uma nova experiência.

A escola possuía um programa de trabalho para os alunos na cooperativa agrícola e isso era muito legal, porque estabelecia um compromisso social fantástico. Cada criança tinha direito a uma parcela pequena na produção diária, possibilitando uma ajuda de custo para sua pequenas despesas escolares. Sentiam-se valorizados em saber que trabalhavam para a produção de sua cidade. Alguns, os mais velhos, ajudavam aos finais de semana na entrega dos produtos em cidades vizinhas.

A escola mantinha um controle rígido com o trabalho desses meninos não permitindo que eles excedessem no horário e nas condições de trabalho, conforme a legislação vigente.

O trabalho na cooperativa trazia para os meninos uma mudança bastante significativa, elevando a sua auto-estima e o prazer de cooperar socialmente. Dessa forma muitos meninos podiam de alguma forma ajudar na renda familiar, evitando outras despesas para os pais.

O tempo ia passando e os meninos iam se tornando rapazes o que aumentava também a responsabilidade deles e nossa.

Era de hábito o encontro na escola para as atividades do Grêmio Escolar e dos ensaios de música e teatro. Os meninos estavam bem integrados nas atividades e participavam sempre com os amigos aos finais de semana.

Não havia um só final de semana que eles não participassem do encontro, isso as vezes me preocupava, porque existia sempre a suspeita de que pudessem estar fazendo algo errado.

Havia um certo rumor na cidade que após um grande festival de música ficou a cidade sendo freqüentada por traficantes e que alguns jovens passaram a fazer uso dessas drogas. O medo começou a fazer parte daquele lugar o que deixava muitos pais assustados com seus filhos. Alguns rapazes começaram a se envolver em brigas e bebedeiras, causando total espanto às suas famílias.