Mudança Legal - Na Escola I

As crianças, como não poderiam deixar de ser, ainda eram uma grande preocupação para nós e nessa mudança toda, os meninos foram estudar em um Grupo Escolar, uma escola da Rede Municipal.

Não tivemos naquela ocasião outra opção até porque naquela pequena cidade não havia outra escola e nós também não teríamos como resolver de outra forma.

A verdade é que fomos aceitando as mudanças e tentando entender a vida em sua grandeza. Difícil na ocasião era aceitar nossos filhos vivendo aquela realidade, mas era em decorrência da nossa pobreza espiritual. Quando pensávamos em mandá-los para o Rio à casa de um parente, tão logo demovíamos a idéia, porque eram nossos filhos e estávamos tão apegados que nem se quer podíamos imaginar dividi-los.

A escola não era ruim, as professoras dedicadíssimas como quase em todas as escolas do interior. Hoje temos isso mais claro, porque a experiência foi nos mostrando uma outra realidade.

Assim o tempo ia passando e cada vez mais o entrosamento dos meninos com a escola ia aumentando. O interesse deles quanto as coisas do lugar nos deixava perplexos porque parecia que a adaptação fora muito repentina, assim como os valores também adquiridos. Isso passou a ser excelente para nós porque também fomos nos entrosando e passando a viver aquela realidade até então desconhecida. Aí estava mais para nós que para eles um desafio, pois havia em nós todo um produto carcomido, fruto de uma formação construída em bases não muito sólidas, mas isso hoje sabemos não ser fruto apenas de quem nasce em cidade grande.

Ao aumentarmos o nosso contato com a comunidade passamos a perceber que na escola tudo era muito bem discutido e a comunidade se organizava ativamente e cobrava do prefeito tudo que fosse de interesse geral.

O que me surpreendia era uma comunidade bastante ativa muito embora não houvesse ali um alto nível de escolaridade, mas um nível satisfatório de consciência. Passei a observar que a Escola tinha um peso bastante importante no despertar dessas consciências.

A Escola possuía um acervo bastante considerável o que jamais pudesse imaginar que uma escola do município interiorano fosse assim tão organizada.

Mais tarde vi que ali estudavam os filhos de todas as pessoas da cidade sem exceção. Pude então perceber que havia um interesse comum. Ninguém queria o melhor somente para seus filhos porque todos eram pais de todas as crianças. Pensei na época em utopia, mas descobri que era realidade. Nossa como a vida muda a gente!

Com isso fomos aos poucos nos adaptando com tudo. Era hábito quinzenalmente haver na Escola um encontro para os pais, onde dentre as várias atividades havia uma integração e não faltava um só responsável, porque todos faziam jus ao nome.

A orientadora conduzia a todos a dar sua opinião sobre o comportamento humano em público, levando a cada cidadão uma dose maior de responsabilidade social e principalmente porque ali também estavam integrado os alunos.

Alunos facilmente falavam de suas responsabilidades em casa como também em sociedade. Pais e filhos declaravam em público suas dificuldades de convivência. Tudo isso era muito bem orientado e discutido por um conselho social que possuía membros de todas as classes.

No início era muito constrangedor para mim falar das minhas dificuldades em público até porque o meu orgulho e vaidade não me permitiam enxergar mais profundamente as minha mazelas. Depois comecei a notar que homens bem simples trabalhadores da terra faziam isso com certa facilidade e que também figuras como diretor do posto de saúde e da escola não hesitavam em demonstrar as suas fraquezas em público. Nossa, era um grande exemplo para as crianças!

Posso admitir o quanto aquilo para mim era torturante e quanto as pessoas me ajudavam para vencer as minhas legitimas barreiras.