Contos da Galiza IV
A tarde em que Leonor esqueceu fechar a janela, ao tempo que o Sol descia no poente e as sombras humedeciam a intempérie, uma avelainha entrou, pôs os seus ovos e morreu na calidez morna do lar.
Não houve qualquer notícia até passados uns dias, quando nos lugares mais inesperados da casa, Leonor descobria casulos e casulos de aveludados fios, a conterem o vermezinho que pulava por sair e transformar-se no ar.
A metamorfose não era conseguida em todos os casos, mas sempre havia algum sucesso e a avelainha voava em espirais da cozinha ao quarto, da sala ao banheiro, pousava nos candeeiros e nos livros, quando Leonor chegava, dava uns rodopios na porta da entrada, quando dormia, planeava longo na nocturnia e aguardava a alva.
Às vezes Leonor a tem perseguido e aniquilado. Mas era só quando ela, inocente, brincava ao redor do teclado com as graciosas asas de avelã.
Um dia Leonor entendeu que a avelainha vivia junto com ela. Foi quando ao descorrer a cortina do duche, a avelainha pousou na toalha que enxugava o corpo de Leonor e, sempre pequeninha e delicada, toda de avelã, mirou-a com os seus olhinhos cósmicos.
Pingando Leonor, feita gota de água que não sabe achar o esgoto, pediu suavemente para a avelainha se acautelar da torneira aberta.