O Funeral
A família e amigos do morto acompanhavam, a pé, o carro fúnebre. Entraram no cemitério. O carro parou e vários homens se dispuseram a carregar o caixão, que se encontrava aberto dentro do veículo. O tio Vicente se esquivou de carregar peso alegando dor nas costas. O caixão aberto mostrava o defunto de bruços que exibia uma basta cabeleira negra despenteada, camiseta branca e calção azul escuro. Parecia estranho que alguém fosse enterrado assim, será que eles não deveriam colocar um terno?...Será que não tinham dinheiro para isso? Juliana, a filha caçula, fazia-se estas perguntas quando vê o pai se levantar do caixão e sair. Como pode? Ele já não estava morto há vários dias? Como ele fará agora? Mãe já jogou fora todos os documentos e roupas dele. Mas o "morto" parecia que não via nada do que estava acontecendo ao seu redor. Ele continuou caminhando em direção á saída do cemitério de mãos dadas com uma criança. A filha caçula olhava aquilo de boca aberta e não entendia porque ninguém falava nada e continuava como estava. Notou que a irmã mais velha entrava pelo cemitério com a filha no colo. "Quero só ver a reação de Filomena quando presenciar nosso pai caminhando para fora do cemitério!", pensou a caçula. Mas a irmã mais velha passou pelo pai sem vê-lo. E o pai foi-se embora sem que ninguém o detesse ou sequer percebesse. Juliana olhava a todos com os olhos arregalados e percebia que cada um continuava como se nada tivesse acontecido. Na verdade, para eles tudo estava do mesmo jeito. A única que presenciou a cena do pai "morto" sair andando foi a caçula e todos acharam que ela estava um pouco perturbada pela morte e disseram apenas que ela devia descansar...