AS VAQUINHAS...
A linda paisagem a beira da estrada me convidava a um passeio, parei o carro numa saída da rodovia, tirei os sapatos pulei a cerca e caminhei sobre a grama. Um grande campo se mostrava à frente, no alto de pequena colina divisei enorme árvore, ao longe um grupo de bois ou vacas caminhava devagar.
Sentia-me muito feliz naquele belo dia de sol.
Subi o pequeno monte, ao sentar nas raízes da enorme árvore a cumprimentei falando em tom jocoso: _ Bom dia dona árvore? A Senhora não se importa de me sentar aqui?... – E ri alegremente.
Mal acabei de me sentar para apreciar a paisagem, ouvi uma voz doce e enérgica:
_ Não! - Sente-se no chão, não gosto que sentem em minhas raízes! –
Comecei a tremer de susto e medo, tive ímpetos de sair dali correndo, minhas pernas não me obedeceram.
A voz continuou falando: _ Não tenha medo de mim seu bobo, sou apenas uma planta respondendo a sua pergunta, mal algum desejo a você, ao contrario estou aqui para lhe servir... –
Belisquei-me para ver se estava acordado, bati o pé no chão com força, pois aprendi que na quarta dimensão a matéria é mais leve, confirmei que estava no mundo dito real, ou seja, nas três dimensões altura largura e profundidade. (comprimento)
Respirei fundo, procurei relaxar e olhei para o tronco da arvore, nada vi de especial.
Ela falou: _ Não tenho boca como você conhece, minha voz sai pelos meus ramos, também não tenho olhos, recebo toda a informação através dos sentidos das minhas folhas... Chame-me de Áurea, não sei a razão, mas gosto deste nome. –
Ainda assustado e meio boquiaberto falei gaguejando;
_ Desculpe Áurea, nunca conversei com árvores, por isso o meu medo e espanto.
Áurea deu uma risada gostosa e falou: _ Você deveria é estar com medo é das Vaquinhas que estão se aproximando daqui. –
Saí do meu estupor e ouvi barulhos de pequenos sinos, que estavam presos aos pescoços dos animais, que se aproximavam. Novamente pensei em correr, mas as pernas tremiam de fraqueza.
Áurea com voz sorridente me acalmou: _ Vou te ensinar uma forma de proteção quando estiver próximo a qualquer perigo e animais... Abra as pernas e levante os braços como uma cruz, assim você fica igual a uma estrela de cinco pontas, imagine raios de luz saído dos pés, das mãos e da sua cabeça, imagine muita luz entrando e saindo desta estrela que é você. Esta imagem representa o ser auto realizado. Garanto-te que em qualquer dimensão todos os seres te respeitam. -
Tomei a forma de estrela de cinco pontas.
Comecei a suar frio, e perguntei à Àurea: _ Porque devo temer estes animais? Elas aparentam serem mansas... –
A voz da árvore tomou um tom grave e sofrido e explicou:
_ São Vaquinhas condenadas à morte. Elas não podem mais procriar, o veterinário informou que são inúteis, não darão mais leite, assim amanhã de manhã irão para o abate, elas sabem disso, estão aqui porque um vaqueiro de bom coração as deixou viver seu último dia no meio do pasto. A Vaca mais velha se chama Mimosa, pensa que você é o patrão, pois foi esta a explicação que o veterinário deu ao vaqueiro; “ A ordem do patrão é levá-las ao abate”.
Como ela nunca viu este patrão e você é a pessoa mais estranha que apareceu, na compreensão dela e das outras, você é o “Patrão”
Estranhamente perdi o medo, e falei para Áurea.
_ Quando sair daqui falarei com os vaqueiros e os donos das vacas, se preciso procurarei associações de proteções de animais, isto é muita maldade. -
Áurea falou séria; _ Você sabe que não adianta, mesmo entre os protetores de animais existem aqueles que apreciam um bom bife.
E no caso delas o que prevalece é o interesse financeiro. O patrão sempre dará um jeito de mandá-las para o abate.
Acho melhor ficar aqui e tentar dar explicações para elas. –
As vaquinhas foram se aproximando lentamente.
Novamente Áurea falou naquele tom de voz sofrido;
_ Na verdade é melhor não falar nada. Como explicar que os filhos delas os garrotes, foram arrancados da sua convivência, e quando cresceram foram abatidos escalpelados e esquartejados?
Como explicar que após alimentarem os humanos e seus filhos com leite durante anos, agora que não podem procriar foram condenadas à morte?
Como explicar tamanha ingratidão? –
Os animais me rodearam, vi no olhar delas muita dor e sofrimento.
Saí da minha posição de estrela de cinco pontas e me sentei no chão.
Ajoelhei-me, chorei como nunca havido chorado na vida, senti a dor a decepção daquelas vaquinhas, pedi para descarregarem em mim a suas magoas.
Elas mudaram a forma de me olhar e me transmitiram muita ternura, senti que me perdoavam, lamberam meu rosto e quando as acariciei lamberam minhas mãos. E foram embora lentamente.
Ao longe tocavam um berrante, as chamando.
Não consegui me levantar e sair daquela posição, ajoelhado.
Áurea com voz emocionada pronunciou;
_ Elas estão felizes, amanhã quando seus corpos forem dilacerados esquartejados, seus couros levados para produzir bolsas e sapatos, seus ossos moídos para varias finalidades, dirão ao Senhor.
“Cumprimos nossa tarefa neste mundo, antes do nosso fim... Beijamos a mão do nosso algoz."
Oh! Humano compreenda que tudo que o criador fez é perfeito, em toda parte do cosmos encontramos a perfeição das suas leis.
Se a Providência Divina te colocou aqui como o Rei da Criação.
E colocou toda a natureza a lhe servir. É porque grande propósito tem nosso pai Celeste, para a sua raça humana. -
Descubra qual é este propósito Divino e cumpra teu destino. –
Imensa vergonha de pertencer à raça humana tomou conta de mim naquele instante.
Vendo a fraqueza e desanimo que me envolveu. Áurea gritou aos meus ouvidos;
_ Levanta-te, Continue a sua caminhada, não poderei conversar com você novamente, o vento veio me informar que os Elementais da natureza preparam violenta tormenta.
Com raios, coriscos, trombas d’águas, furacões, com finalidade de dissiparem as emanações de dores e sofrimentos dos milhões de animais sacrificados diariamente neste mundo.
Esta emanações deprimentes, dolorosas criam na atmosfera miasmas sanguinolentos, despertando a brutalidade das criaturas.
Após serem dispersas pela violenta tempestade, são espalhadas nas florestas.
Depois o Elemental do fogo é chamado para queimar as matas que receberam estes miasmas nefastos.
Nesta próxima tempestade termina a minha vida, serei arrancada do solo, algumas partes irão parar na fogueira, outras partes continuarão a servir a humanidade em forma de moveis domésticos, no final irei para o fogo.
Na verdade estou lhe revelando um grande segredo.
Os Ventos me informam tudo que acontece no planeta, todas as palavras, pensamentos sensações desejos, aspirações humanas estão no ar.
Aqueles que conseguem captar, conhecem tudo.
Os pássaros também me informam de todos os fatos. –
Abracei-me ao tronco da árvore, profundamente emocionado, perguntei:
_ Conseguirei conversar com outras árvores sábias como você?
Ouvi a doce voz, carinhosa e terna de Áurea...
_ Consulte sempre o seu coração.
No futuro quando o ser humano aprender amar verdadeiramente a natureza e respeitá-la, a comunicação entre nós será natural. -
Beijei o seu tronco diversas vezes, me despedi.
No horizonte algumas nuvens negras anunciavam grande tempestade.