Amanhã...
Depois de um dia exaustivo de trabalho, depois de ter viajado de ônibus por quase duas horas, cheguei à casa de meu pai.
Como sempre, ficou feliz em me ver. Convidou-me para entrar, tirou uma cerveja da geladeira, encheu um copo e me entregou. Melhor do que ninguém, ele sabia... Cerveja eu não recuso nunca.
Ele não bebeu, não era muito de beber mesmo. Aparentava extremo cansaço.
Não nos víamos com muita freqüência e os encontros eram rápidos, não mais do que algumas horas. Porém, desta vez era diferente. Meu pai estava muito doente.
Mais tarde, após conversarmos um bocado, eu insistia:
- Pai, você precisa se cuidar! Amanhã mesmo vou te levar no médico.
- Não se preocupa filho... Eu tô bem, cê tem que trabalhar. Não quero dá trabalho pra ninguém.
- Nada disso! Tá decidido. Amanhã vamos no médico, você não está nada bem...
De fato, ele não estava bem. Tinha emagrecido muito, olheiras profundas. Parecia bem mais velho desde a ultima vez que o vira.
Antes de dormir acompanhei-o até o quarto, para ajudá-lo com o nebulizador. Há algum tempo meu pai apresentava problemas respiratórios...
De repente...
Caiu deitado na cama, sem ar.
Não respirava...
Eu não sabia o que fazer...
Meu pai não respirava.
Eu o sacudia, tentava desesperadamente...
Seus olhos paralisados, sem brilho, sem vida...
Sem saber como agir, desferi-lhe golpes no peito, na expectativa de reanimá-lo...
Eu gritava...
Batia, batia em seu peito...
Chorava...
No dia seguinte... não fomos ao médico.