Um Duende Debaixo da Cama II
Por alguns segundos, calou-se e contemplou a sua esposa e o seu único filho. Sabia que eles eram seus maiores bens, na verdade, os únicos. Era um mero bancário, não possuia nem casa própria nem-tampouco veículo. Portanto, perdê-los seria perder a razão da sua humilde vida. Ainda sentado sobre a cama, observava-os ali, desamparados, próximos à porta do quarto. Sua esposa havia se abaixado a fim de abraçar o filho com mais facilidade. Ambos choravam desesperadamente.
Tinha de fazer algo. Não podia bater no filho, apavorava-se na hipótese de perder a sua família. Mas o que faria? Já houvera levado o garoto para um especialista diversas vezes. De fato, abusou do plano de saúde. Na semana anterior até dormiu um dia no quarto do filho a fim de prova-lo que não existia nada ali. Olhou debaixo da cama e mostrou-lhe que não havia sinal algum de bonequinho. Mas Leozinho insistiu que a criatura tinha sumido porque gostava de aparecer apenas para as crianças.
Levantou-se da cama, calçou as suas sandálias e foi ao encontro do filho e da esposa. Ao chegar lá, também abaixou-se e abraçou fortemente a ambos. Queria demonstrar a sua segurança. Queria mostrar que tinha uma solução para aquele problema. No entanto, sabia que não tinha. Angustiado, beijou-lhes e, tentando manter o auto-controle, disse:
- Acalmem-se, meus amores... Isso vai passar, garanto-lhes! Nem que eu tenha de dormir todos os dias naquele quarto, descobrirei o motivo dessas aparições. Isso caso exista motivo ou mesmo casa haja bonequinho fantasma.
- Mas, Mário, não precisa fazer esse sacrifício. Acredite nas palavras da doutora, tudo isso vai passar com o tempo. Devemos apenas sermos compreensivos com essa situação. Eu sei que é dificil você entender, porém Leozinho tem que dormir conosco por enquanto.
- Por enquanto... até quando? Um ano, dois anos, quem sabe cinco anos... Não! Definitivamente. Prefiro dormir no quarto dele por uns dias e mostra-lo que esta enganado. Sabe, Bere, é até melhor eu fazer isso, assim não brigo com você por causa dessa besteira. Sei, no íntimo do meu coração, que estou fazendo a coisa certa.
Continua em breve.
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