ALMAS GÊMEAS...

Houve um tempo
Em que o mundo era ainda jovem
E que as almas eram confeccionadas
Cuidadosamente aos pares.
Num encaixe sublime e perfeito
Entre corpo, sexo
Razão e emoção.
Existindo eternamente felizes...

Mas, numa noite em calmaria
Lua, sol, estrelas
E todo o horizonte dormia.
Aquele anjo traquino
Travestido de menino
Aprontou mais uma das suas...

Num lápso atemporal,
Destramelou as portas do céu
Abrindo no infinito um véu
De passagem e de quiméra
E fazendo um grande escarceu
jogou-as deliberadamente
Todas na terra.

Almas...
Que hoje vivem numa busca
Nessa estrada que não se encerra
Querendo encontrar o seu par
Em choros, em tristezas
De sonhos sem vela.

E seguem
Sem nenhum acalanto
Cegas.
Penando sem rumo e sem prumo
Abraçadas à esperança
Que lhes nega
As ruas da primavera.

Estrábicas na comunhão
Não veem...
Que a sua cara-metade
Reside na mesma cidade
Do cosmo
Que tem por nome coração.